segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Para professores, Enem está cada vez mais ‘conteudista’, e não tão intuitivo quanto antes ( O GLOBO)

Prova de Química, com 20 questões, requeria conhecimento específico para resolução

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RIO - Ano após ano, o Enem vem se aprofundando no conteúdo das disciplinas que compõem o último segmento da educação básica. Desde 2010, quando foi reformulada, a prova passou a cobrar temas e tópicos específicos de cada matéria, com questões consideradas “conteudistas”, e não mais tão intuitivas e interpretativas quanto antes. Nesta edição, os candidatos tinham de conhecer temas como genética, leis de Newton, Guerra do Paraguai e o estilo literário dos pré-modernistas.
Para especialistas, o exame mudou e se assemelhou aos antigos vestibulares a fim de recepcionar as universidades federais. De acordo com Márcio Branco, professor de História do curso on-line QG do Enem, a parte de Ciências Humanas atingiu um “ponto ótimo” entre “conteudismo” e interpretação:
— Eu acreditava que viria mais difícil, mas o Enem é uma prova nacional. Então o Inep (órgão organizador do exame) optou por não aprofundar mais

INTERPRETAÇÃO AINDA PREVALECE NO TESTE DE LINGUAGENS
O equilíbrio descrito por ele variou conforme as disciplinas. Em Ciências da Natureza, que engloba Química, Física e Biologia, ficou a percepção de que as questões vieram sem a mesma contextualização, valorizando conteúdos específicos.
— Este ano foram 20 perguntas só de Química, um número bem maior do que o das provas anteriores. Em Química o aluno não pode ser muito intuitivo ou resolver a questão apenas com interpretação. Se não estudou, não vai saber fazer — afirmou Jonas Stanley, professor de Química, Física e Matemática do Curso Pensi.
Em Matemática, uma das partes mais temidas, professores perceberam que a prova perdeu um pouco a característica de contextualização, preferindo cobrar conceitos “crus” como cálculo de volume, porcentagem ou probabilidade. As questões que buscaram conciliar conteúdo com a realidade do aluno foram elogiadas:
— Destaco a questão do cone de trânsito e do corrimão que faz o movimento em espiral. Foram modos de trabalhar a matemática de um jeito bem mais factível — ressaltou Márcio Cohen, do QG do Enem.
Se existe uma área onde o Enem mantém a tradição é a prova de Linguagens. Nela, sempre se cobrou mais a interpretação do que tópicos gramaticais frios e distantes, dizem professores.

Na prova de redação, os candidatos foram instados a discorrer sobre publicidade para crianças. O assunto, em alta no noticiário devido à publicação, em abril, de uma resolução do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) considerando abusivo esse tipo de propaganda, ganhou elogio do coordenador de Português e Redação do Colégio e Curso pH, Felipe Couto:
— O Enem tem esta característica de cobrar uma reflexão de ordem político-social. E esse tema é um aspecto muito importante da contemporaneidade.

MÚSICA VOLTA A APARECER COM FORÇA
Nos últimos anos o Enem tem mostrado apreço especial pela música. Este ano não foi diferente. O folk do cantor e compositor americano Bob Dylan apareceu na prova de inglês, com a música “Master of war”. O candidato tinha que identificar quais eram as críticas feitas pela letra, que questiona os interesses por trás de uma guerra.
Já a canção “Óia eu aqui de de novo”, do compositor e cantor Antônio Barros, foi utilizada para discutir o repertório linguístico e cultural brasileiro. Dentre versos como “Diz que eu tou aqui com alegria” e “Vou mostrar pr'esses cabras”, o candidato tinha que apontar qual deles singularizava uma forma característica do falar popular regional.
Outro item trazia um texto do maestro Henrique Cazes que discutia como grande parte da música popular desenvolvida nos países colonizados por Portugal compartilham um instrumental marcado por cavaquinho e violão. Os candidatos deveriam, então, mostrar quais exemplos da música popular brasileira utilizam esses instrumentos.
As origens do funk e do hip hop brasileiro também foram abordadas. O tópico citava os famosos bailes black, que reuniram legiões de jovens nas periferias dos grandes centros urbanos embalados pela black music americana, e pedia ao estudante que identificasse as características da cultura hip-hop no Brasil.
Outro tópico trazia um texto que enumerava as preferências musicais do brasileiro, destacando como o sertanejo caiu no gosto popular, segundo pesquisas.




Fonte: http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/enem-e-vestibular/para-professores-enem-esta-cada-vez-mais-conteudista-nao-tao-intuitivo-quanto-antes-14516591

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