ACONTECEU NUMA NOITE DE NATAL!
*Por Cláudio Silva
Como as nossas cidades estão cada vez mais tomadas por mendigos e
andarilhos! São pessoas de todas as idades, índios, mulheres, crianças, jovens,
velhos, alguns em visível estado de embriaguês ou efeito de drogas. E estão por
todos os lugares, normalmente em cruzamentos e saídas de supermercados e lojas.
Às vezes aparecem em igrejas, durante as
celebrações, criando situações por vezes constrangedoras. Confesso envergonhado que nesses momentos peço
em meu íntimo – “Senhor, que não venha
para o meu lado. E que não se sente justamente aqui! Não saberia o que fazer e poderia
até passar mal!”
Vivenciamos um episódio desses no
dia de Natal há alguns anos atrás. Combinamos que as famílias se reuniriam na
casa do Zé Roberto e da Célia, meu irmão e minha cunhada. Seguindo a tradição
familiar, antes da ceia fomos participar
da missa. A igreja do bairro deles estava
em obras, e para adentrá-la era preciso primeiro
vencer uma longa escadaria, que ainda estava no concreto bruto. Uma família de
moradores de rua nos primeiros degraus dificultava o acesso. Era formada por um
casal de meia idade, aparência repulsiva, aspecto sujo, roupas amarfanhadas, cabelos
desgrenhados e semblante aparentemente turvado pelo álcool, dois adolescentes e
uma criança de colo. De certa forma a presença deles e os pedidos de esmolas incomodavam
os que, como nós, chegavam para a missa solene. As pessoas apressadamente procuravam se desviar para encontrar logo um lugar para sentar, porque nesses dias as igrejas normalmente
lotam e os cultos são mais longos.
Durante a celebração, novas
situações seriam protagonizadas por aqueles pedintes. Eles misturaram-se em
meio ao povo, e passavam com as mãos estendidas. Alguns fiéis davam, outros fingiam
não os ver. Não perturbavam, mas a sua presença e sobretudo a sua aparência, visivelmente
provocava mal-estar.
Num certo momento da missa as pessoas
iam até a frente do altar depositar as suas ofertas em cestos. Quando parecia
que toda a igreja já havia cumprido a sua participação, a mendiga entra devagar
pelo corredor central, quase que solenemente, parecendo desfilar, levantava em
uma das mãos uma nota meio amarrotada de dinheiro. Algumas pessoas tentaram
afastá-la, mas o celebrante, observando o mal estar causado pela situação, interveio :
- Podem deixá-la, parece que a senhora também quer fazer a sua oferta.
Venha filha!
Ela foi se aproximando do altar
numa postura claramente altiva de alguém embriagado, e solenemente depositou
aquela nota na cesta de ofertas. Fez uma reverência respeitosa, e com um olhar
fixo como se mirasse o infinito, foi saindo
pelo centro indo sentar-se no chão nos
fundos da igreja onde o grupo se acomodara. De vez em quando tirava pequenos
pedaços de um pão amanhecido e dava para a criança, que depois de certo tempo
adormeceu nos seus braços, e ela meio atabalhoada reclinou sobre umas trouxas de roupa. Os demais
membros do grupo permaneciam ali sentados com aquele semblante mortiço
característico de pessoas nas condições
em que se encontravam. Os fiéis próximos os observavam num misto de curiosidade
e claro incômodo.
Quando a celebração estava
terminando e o padre dava a mensagem de boas festas às famílias, curiosamente, antes da benção final chamou aqueles mendigos para que fossem à frente . As
pessoas, sem entender o que estava acontecendo e se entreolhando com espanto,
foram abrindo passagem e aquele estranho grupo foi seguindo pelo meio do povo!
Surpresa geral! Eram atores
populares convidados pelo celebrante.
A mensagem de Natal havia sido
proclamada!
Pense nisso e um Feliz Natal!
24 de
dezembro de 2017
*Cláudio Silva é mestre em Educação, ex- Secretário de Educação de Apucarana-PR e ex- presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação-UNDIME/PR. Diretor da Escola Nossa Senhora da Alegria. (mais textos do professor poderão ser acessados no sitewww.profclaudiosilvaeducacional.com )
Ficha Técnica: Estrutura: Jornalista Cláudia Alenkire Gonçalves da Silva – MTE 000 9817 /PR Revisão: Psicóloga Me Cláudia Yaísa Gonçalves da Silva - CRP 06/11120 e Bacharel em Direito Cláudia Layla Gonçalves da Silva
Um comentário:
A vida nos coloca em cenas semelhantes e demoramos a aprender...que pena!
Postar um comentário