domingo, 24 de fevereiro de 2013

O despertar dos pesquisadores ( GAZETA DO POVO )


O total de pedidos de patentes feito por universidades do Paraná junto ao Inpi aumentou 86%, passando de 67, em 2011, para 125 no ano passado
Fonte: GAZETA DO POVO Publicado em 24/02/2013 | RAFAEL WALTRICK

Antônio More/ Gazeta do Povo
Antônio More/ Gazeta do Povo / O professor Obdulio Gomes Miguel, coordenador do grupo de Produtos Naturais do Departamento de Farmácia,  da UFPR, ao lado das alunas Gisleine Fujwara e Samanta Golin (nas pontas) e das professoras Josiane Dias e Sandra Maria Zanin (no centro): incentivo aos novos pesquisadoresO professor Obdulio Gomes Miguel, coordenador do grupo de Produtos Naturais do Departamento de Farmácia, da UFPR, ao lado das alunas Gisleine Fujwara e Samanta Golin (nas pontas) e das professoras Josiane Dias e Sandra Maria Zanin (no centro): incentivo aos novos pesquisadores
Responsáveis por estudos nas mais diferentes áreas – do tratamento contra a asma até a produção de biscoitos –, pesquisadores das universidades paranaenses têm dobrado os esforços para garantir que os projetos desenvolvidos nos laboratórios encontrem respaldo e atenção de investidores fora do ambiente acadêmico. Somente no último ano, o número de pedidos de patentes feito por universidades do Paraná junto ao Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (Inpi) aumentou 86%. Foram 125 depósitos de invenções contra 67 em 2011.

A fatia da academia no bolo total de pedidos do estado, porém, ainda é tímida. Apesar de concentrar as cabeças pensantes, cujo trabalho muitas vezes é voltado diretamente para as pesquisas, as universidades foram responsáveis em 2012 por somente 17% dos registros paranaenses solicitados ao Inpi. O restante foi monopolizado pela iniciativa privada, mais atenta, segundo os próprios pesquisadores, à possibilidade de angariar recursos pela exploração de novos produtos e processos.
Pesquisa
De afrodisíacos a antiinflamatórios
Entre as universidades contatadas pela Gazeta do Povo, a Universidade Federal do Paraná desponta como a que mais depositou pedidos de patentes nos últimos cinco anos. Somente em 2012 a UFPR foi responsável por 71 pedidos – quase o dobro do ano anterior.
Os grupos de pesquisas das áreas de Produtos Naturais e Farmacotécnica, do Departamento de Farmácia, estão entre os que mais contribuíram para que a UFPR atingisse a marca histórica de mais de 200 patentes depositadas. Ano passado, pesquisadores dos grupos enviaram 15 pedidos ao Inpi.
A produção é variada e contempla desde o estudo de plantas com substâncias capazes de aumentar a produção de espermatozóides no homem até o extrato de mel proveniente de abelhas sem ferrão, com poder antiinflamatório. Em comum, o fato de as pesquisas poderem resultar em novos medicamentos.
O processo, porém, é longo e exige paciência. Apesar de ter 225 pedidos depositados junto ao Inpi, a UFPR não conseguiu nenhuma concessão de patentes – etapa final do processo. Hoje, todo o trâmite pode levar oito anos. Mesmo assim, o coordenador do grupo de Produtos Naturais, Obdulio Gomes Miguel, não deixa de incentivar alunos e professores a enfrentarem a via-sacra.
“Acredito que, num futuro próximo, essa consciência de procurar registrar os pedidos fique mais nítida na cabeça dos pesquisadores. As patentes são importantes para resguardar o trabalho desenvolvido e trazer recursos para mais pesquisas”, reforça.
Patentes
O pedido de patente é feito para que o pesquisador seja o único a poder explorar comercialmente determinado produto ou processo, que ele mesmo elaborou. Em contrapartida, após a concessão da patente, o inventor precisa revelar detalhadamente todo o conteúdo técnico da pesquisa protegida – o que permite a terceiros dar um passo adiante e fazer novas pesquisas. A patente, porém, só é concedida após uma rigorosa – e demorada – análise de técnicos do Instituto Nacional da Propriedade Intelectual. Uma das principais exigências é que o projeto seja completamente novo.
O balanço das universidades paranaenses foi feito pela Gazeta do Povo, com base em informações repassadas pelas instituições. Considerando os últimos cinco anos, o aumento no número de pedidos com origem na academia chega a 205% (veja gráfico). O “boom” recente, conforme especialistas, é fruto de investimentos das universidades na estruturação e qualificação de incubadoras e agências de inovação, órgãos responsáveis por orientar os pesquisadores e tomar para si o trabalho burocrático junto ao Inpi. Que, no caso das patentes, não é pequeno.
“Para de fato haver inovação, é preciso transformar conhecimento em produto ou serviço e isso chegar na sociedade, para então gerar recursos e desenvolvimento. As universidades ainda não conseguem realizar esse processo de forma plena, mas agora estão começando a se estruturar”, avalia o professor do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e assessor da reitoria para Inovação Tecnológica, Marcelo Farid.
Parceria
Mesmo com o aumento de pedidos de patentes, há consenso de que o potencial de inovação das universidades, tanto no Paraná quanto no país, pode ser muito maior. Principalmente se a academia e o setor produtivo estreitarem os laços, tirando da gaveta dos pesquisadores processos e produtos que poderiam chegar ao “cidadão comum”, reforça o gerente do Centro Internacional de Inovação do Fiep, Filipe Cassapo. “As universidades precisam proteger, por meio das patentes, o conhecimento que produzem, mas para que ele seja transferido para as empresas. Se tivermos só patentes depositadas, mas não tivermos diálogo e conversão para processos e negócios, perderemos uma grande oportunidade de gerar inovação”, afirma.
Investimento
Portal compartilhará dados sobre pesquisas

O secretário estadual da Ciência, Tecno­­lo­­gia e Ensino Superior, Alípio Leal, considera como “promissor” o cenário de evolução das pesquisas e pedidos de patentes nas universidades. “Está havendo uma mudança de conceitos que encontra consistência nas propostas do governo e do setor produtivo. As universidades estão se abrindo para isso, o que não é muito comum”, afirma.
Um dos avanços recentes, que deve promover um ambiente mais favorável para a produção científica na academia e nas empresas, é a criação da Lei da Inovação do Paraná, sancionada em setembro passado. Na próxima semana, a lei será regulamentada e o governo deve declarar 2013 como “o ano da inovação” no Paraná.
Entre as medidas previstas na lei está a concessão de bolsas para que estudantes de mestrado e doutorado façam projetos de pesquisas em empresas. Outra iniciativa planejada é a criação de um portal online que reunirá informações da produção científica das universidades para consulta da iniciativa privada. Na prática, o sistema permitirá que empresas, entidades e universidades consigam acompanhar o que cada um está produzindo de tecnologia (respeitados os casos de sigilo) – e possam concentrar esforços.



Link’s recomendados:

Nenhum comentário: