* Por Cláudio Silva
O triste e lamentável episódio da escola do Realengo vitimando fatalmente 12 adolescentes, mais uma vez colocou a sociedade brasileira em estado de alerta. Inclusive com repercussão internacional. Um aspecto chamou a atenção, a recorrência do fenômeno bullying abordado semanas atrás nesta coluna em nossa crônica O “Morro dos Ventos Uivantes” e o bullying! , e que recomendamos reler. As análises do caso que tem sido apresentadas por autoridades policiais e especialistas, sobretudo nas áreas da psiquiatria e psicologia, dão conta de que não é possível prever atos perpetrados por uma mente desequilibrada. No entanto, uma situação é fato, o criminoso foi vítima de bullying quando estudou naquela mesma escola. Retomemos alguns trechos de reportagens veiculadas nos últimos dias:
-“ Em anotações encontradas pela polícia em sua casa, o atirador Wellington Menezes de Oliveira, 23, pôs a culpa pelo massacre em Realengo nos que o humilharam na escola na adolescência. Os manuscritos foram exibidos ontem à noite no "Fantástico", da Rede Globo. [...] Muitas vezes, aconteceu comigo de ser agredido por um grupo e todos os que estavam por perto debochavam, se divertiam com as humilhações que eu sofria sem se importar com meus sentimentos", escreveu ele. ” ( Folha de S. Paulo 11. 04. 2011);
- “Eu me lembro muito, o Wellington era o ‘bundão’ da turma, era um cara totalmente tranquilo, um bobão. Implicavam bastante com ele, zuavam ele de tudo o que é nome”, contou Bruno. Mas depois o jovem ressaltou: “Ele apesar de ser bundão, ele tinha um sorriso assustador”. ( Portal G1 08.04.11)
- “O professor Glenn Stutzky, da Universidade de Michigan State (EUA), analisa que pessoas que tenham sido vítima de bullying na escola, podem praticar atos de violência no futuro, desencadeados por outros fatos”. ( Folha de S. Paulo 15.04. 11)
É consenso que nada pode justificar atos de violência, e suas raízes devem ser combatidas com o seu antídoto. Assim, é imperioso que a sociedade, para poder fazer o seu enfrentamento, se una no sentido da promoção de uma educação para a paz, e para a promoção de relações humanas fraternas. Um trabalho de humanização que seja iniciado na família, e perpasse as demais instituições sociais fundamentais. E que seja assumido pelos seus principais atores. Neste sentido a escola é o locus por excelência para a promoção e aprofundamento desse processo, de, quem sabe, reeducação humana. Talvez seja este o termo mais apropriado.
Mas para que isso seja possível, é necessário superar todo e qualquer entrave, inclusive barreiras de caráter ideológico. Digo isto baseado em um fato que ocorreu comigo no ano passado, em Curitiba, na etapa estadual da Conferência Nacional da Educação ( CONAE). Apresentamos a proposta da inserção da educação para a paz nos currículos escolares. Para que constasse no documento final que seria encaminhado posteriormente para a etapa nacional da conferência, e a partir do qual seriam delineadas as propostas para a elaboração do Plano Nacional de Educação ( PNE). A sugestão foi motivada por uma sequência de fatos, à época, envolvendo agressões a professores e estudantes em Londrina - Pr, inclusive com o seqüestro de uma diretora por alunos. A proposta , por questões ideológicas, dividiu as opiniões da plenária, sendo levada a votação. E, pasmem, a educação para a paz foi voto vencido! Por uma pequena margem de votos, mas o fato é que foi recusada. Argumentos contrários, comentados depois “a boca pequena”, eram de que iniciativas dessa natureza se identificam com práticas apregoadas pela política neoliberal. Curiosamente, a mesma cidade de Londrina, há poucos dias frequentou novamente os noticiários com graves fatos de violência em escolas. Às vezes a estreiteza das diferenças humanas, impede a percepção de questões maiores e fundamentais. E a política tem sido campo fértil para esses radicalismos que têm custado tão caro à sociedade.
Mas para que isso seja possível, é necessário superar todo e qualquer entrave, inclusive barreiras de caráter ideológico. Digo isto baseado em um fato que ocorreu comigo no ano passado, em Curitiba, na etapa estadual da Conferência Nacional da Educação ( CONAE). Apresentamos a proposta da inserção da educação para a paz nos currículos escolares. Para que constasse no documento final que seria encaminhado posteriormente para a etapa nacional da conferência, e a partir do qual seriam delineadas as propostas para a elaboração do Plano Nacional de Educação ( PNE). A sugestão foi motivada por uma sequência de fatos, à época, envolvendo agressões a professores e estudantes em Londrina - Pr, inclusive com o seqüestro de uma diretora por alunos. A proposta , por questões ideológicas, dividiu as opiniões da plenária, sendo levada a votação. E, pasmem, a educação para a paz foi voto vencido! Por uma pequena margem de votos, mas o fato é que foi recusada. Argumentos contrários, comentados depois “a boca pequena”, eram de que iniciativas dessa natureza se identificam com práticas apregoadas pela política neoliberal. Curiosamente, a mesma cidade de Londrina, há poucos dias frequentou novamente os noticiários com graves fatos de violência em escolas. Às vezes a estreiteza das diferenças humanas, impede a percepção de questões maiores e fundamentais. E a política tem sido campo fértil para esses radicalismos que têm custado tão caro à sociedade.
Importante, em momentos como agora, em que somos sacudidos por fatalidades carregadas de extrema violência, repensar a educação dos nossos filhos. E tomar consciência de que os “freios morais” que norteiam e equilibram a ação humana precisam ser repensados e revalorizados. Um deles é a fé, cuja crise moderna se traduz no distanciamento do primeiro mandamento, ou na sua redução a práticas fanatizantes e/ou desencarnadas da realidade. Desde a antiguidade a Regra de Ouro tem sido uma ótima referência moral, amar ao próximo como a si mesmo.
O mundo voltado para o individualismo é um mundo que não cria fraternidade. Michel Quoist, escritor francês, indica que reconstruindo o homem, estaremos reconstruindo o mundo. E que a reconstrução do homem passa pela reconstrução de relações fraternas. Constatação tão antiga e tão atual, e historicamente relembrada por personagens que marcaram a humanidade como Jesus Cristo, Confúcio, Ghandi, Luther King e tantos outros. Finalizando, algumas frases da emblemática “Blowin In The Wind”, de Bob Dylan: “Quantos caminhos um homem deve andar, para que possa ser chamado de homem? Quantas mortes ainda serão necessárias, para que se saiba que já se matou demais? Quanto tempo um homem deve virar a cabeça, fingindo não ver o que está vendo?”.
Um abraço e uma boa semana!
*Cláudio Silva é mestre em Educação, Secretário de Educação de Apucarana-PR e ex- presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação-UNDIME/PR. ( mais textos do prof. poderão ser acessados em http://profclaudiosilva.blogspot.com)
Ficha Técnica:
Estrutura: Cláudia Alenkire Gonçalves da Silva (acadêmica de jornalismo)
Revisão: Prof.ª Doutoranda Leila Cleuri Pryjma
Acesse a mais recente crônica do Prof. Cláudio Silva “Tá faltando tempero, Zé!"! clicando: http://profclaudiosilva.blogspot.com/2011/08/ta-faltando-tempero-ze.html.
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