sábado, 21 de junho de 2014

BRASIL X MÉXICO - pode ter sido melhor assim ( Crônica do Prof. Cláudio Silva)

 *Por Cláudio Silva
O empate da seleção brasileira na partida contra o México, deixou algo muito evidente - não somos os melhores do mundo. Porque muitas pessoas assim pensam, talvez influenciadas pela mídia, que às vezes exagera nos comentários. E até acreditam que já ganhamos a copa por antecipação. E que quando o nosso selecionado tropeça, é apenas um acidente de percurso.

Eu me recordo dos tempos de infância e adolescência, em que se exaltava, inclusive nas escolas, a ideologia do Brasil grandioso.  Tudo por aqui era apregoado como maior, melhor, ou os dois juntos. O nosso hino e a nossa bandeira, os mais belos do mundo, o maior estádio de futebol, a maior rodovia, o melhor jogador, a maior hidrelétrica. E tantos outros ícones de grandeza que nos levavam a supor que realmente éramos superiores. Com o tempo fomos percebendo que também éramos os maiores em outras áreas: nos índices inflacionários, na escorchante carga tributária, nas estatísticas de criminalidade, nas mortes por acidentes nas rodovias, na precariedade dos serviços públicos de educação, saúde, segurança, transporte,  infraestrutura urbana, e principalmente em corrupção.

Voltando ao futebol, não se pode negar que o Brasil tem uma história admirável e respeitada mundo afora. Grandes craques, conquistas memoráveis, cinco copas do mundo. Mas esta edição do torneio em nossa casa, está nos permitindo ver seleções desconhecidas  praticando um futebol de causar inveja, algumas de países pequenos e pobres. Que o diga a Costa Rica, que acaba de bater a Itália e se classificar, no instante em que redijo este texto. E várias equipes já mostraram que neste momento se encontram num estágio bem superior ao do nosso selecionado. Os outros também aprendem e  se aperfeiçoam . Ainda hoje lia uma manchete intrigante de um comentário do apresentador esportivo Milton Neves – “Pode ser surreal, mas o Brasil virou zebra”, sobre a participação do nosso selecionado nesta copa ( ver o link de acesso abaixo).

É hora de pisar no chão da realidade e aproveitar o momento para uma  reflexão. Apenas um fato já serve como sinalizador para nós - os japoneses estão dando um banho de civilidade nos estádios, recolhendo o lixo após as partidas. Isso é resultado de uma cultura que prioriza a educação na sua essência. Porque na cultura deles isso é um ato normal. Quando exercia o cargo de secretário de educação, recebemos certa vez a visita de uma delegação japonesa de Toyohashi, uma cidade localizada na província de Aichi. Vieram conhecer o programa de educação integral de Apucarana por indicação do presidente do Conselho Estadual de Educação do Paraná à época. E nos presentearam com um vídeo mostrando a rotina de uma escola japonesa, as quais funcionam normalmente em tempo integral. O que despertou a nossa atenção era de que na escola não havia zeladoras, e as próprias crianças em sistema de rodízio por equipes  serviam as refeições aos colegas, e depois todos juntos limpavam a sala. A refeição era trazida por um veículo, já pronta, e servida na própria sala de aula. Disseram depois que toda a comunidade escolar - educandos, educadores e pais, se encarregavam de manter a escola em ordem, inclusive nos serviços de jardinagem. Uma educação que vai além da simples transmissão de conhecimentos, buscando transformar e humanizar o educando,  preparando-o para o exercício consciente da cidadania. Ao mesmo tempo, assistimos estarrecidos as cenas de depredação e agressões, contraditoriamente, no meio de  manifestações populares com reivindicações justas, necessárias, oportunas e mais do que isso, urgentes, dentre elas a educação.

Finalizo relembrando, o já citado por mim, refrão de uma canção da Leci Brandão:  “Na sala de aula é que se forma o cidadão, na sala de aula é que se muda uma nação.” Neste campo sim, o Brasil precisa urgentemente virar o jogo. Um jogo que o Japão nos  está mostrando que já venceu. Aprender com o futebol, um esporte de equipe, que o jogo da cidadania também se exerce coletivamente. E os “melhores do mundo”, entre aspas,  podem ter uma aula com os adversários, mesmo os que aparentemente lhe são inferiores.
Pense nisso!
(Se achou esta crônica interessante, poste o seu comentário abaixo. Sua referência é importante para nós.)
*Cláudio Silva é mestre em Educação, ex- Secretário de Educação de Apucarana-PR e ex- presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação-UNDIME/PR. Diretor da Escola Nossa Senhora da Alegria                                                           
 (mais textos do professor poderão ser acessados no SITE Prof. Cláudio Silva Educacional)
Ficha Técnica:Estrutura: Jornalista Cláudia Alenkire Gonçalves da Silva – MTE 000 9817 /PR Revisão:  Psicóloga Mestranda Cláudia Yaísa Gonçalves da Silva.

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