*Por Cláudio Silva
O empate da seleção brasileira na
partida contra o México, deixou algo muito evidente - não somos os melhores do
mundo. Porque muitas pessoas assim pensam, talvez influenciadas pela mídia, que
às vezes exagera nos comentários. E até acreditam que já ganhamos a copa por
antecipação. E que quando o nosso selecionado tropeça, é apenas um acidente de
percurso.
Eu me recordo dos tempos de
infância e adolescência, em que se exaltava, inclusive nas escolas, a ideologia
do Brasil grandioso. Tudo por aqui era
apregoado como maior, melhor, ou os dois juntos. O nosso hino e a nossa
bandeira, os mais belos do mundo, o maior estádio de futebol, a maior rodovia,
o melhor jogador, a maior hidrelétrica. E tantos outros ícones de grandeza que nos
levavam a supor que realmente éramos superiores. Com o tempo fomos percebendo
que também éramos os maiores em outras áreas: nos índices inflacionários, na escorchante
carga tributária, nas estatísticas de criminalidade, nas mortes por acidentes
nas rodovias, na precariedade dos serviços públicos de educação, saúde, segurança,
transporte, infraestrutura urbana, e
principalmente em corrupção.
Voltando ao futebol, não se pode
negar que o Brasil tem uma história admirável e respeitada mundo afora. Grandes
craques, conquistas memoráveis, cinco copas do mundo. Mas esta edição do
torneio em nossa casa, está nos permitindo ver seleções desconhecidas praticando um futebol de causar inveja, algumas
de países pequenos e pobres. Que o diga a Costa Rica, que acaba de bater a
Itália e se classificar, no instante em que redijo este texto. E várias equipes
já mostraram que neste momento se encontram num estágio bem superior ao do
nosso selecionado. Os outros também aprendem e
se aperfeiçoam . Ainda hoje lia uma manchete intrigante de um comentário
do apresentador esportivo Milton Neves – “Pode ser surreal, mas o Brasil virou
zebra”, sobre a participação do nosso selecionado nesta copa ( ver o link de
acesso abaixo).
É hora de pisar no chão da
realidade e aproveitar o momento para uma
reflexão. Apenas um fato já serve como sinalizador para nós - os
japoneses estão dando um banho de civilidade nos estádios, recolhendo o lixo
após as partidas. Isso é resultado de uma cultura que prioriza a educação na
sua essência. Porque na cultura deles isso é um ato normal. Quando exercia o
cargo de secretário de educação, recebemos certa vez a visita de uma delegação
japonesa de Toyohashi, uma cidade localizada na província de Aichi. Vieram conhecer o
programa de educação integral de Apucarana por indicação do presidente do
Conselho Estadual de Educação do Paraná à época. E nos presentearam com um
vídeo mostrando a rotina de uma escola japonesa, as quais funcionam normalmente
em tempo integral. O que despertou a nossa atenção era de que na escola não
havia zeladoras, e as próprias crianças em sistema de rodízio por equipes serviam as refeições aos colegas, e depois
todos juntos limpavam a sala. A refeição era trazida por um veículo, já pronta,
e servida na própria sala de aula. Disseram depois que toda a comunidade
escolar - educandos, educadores e pais, se encarregavam de manter a escola em
ordem, inclusive nos serviços de jardinagem. Uma educação que vai além da
simples transmissão de conhecimentos, buscando transformar e humanizar o
educando, preparando-o para o exercício
consciente da cidadania. Ao mesmo tempo, assistimos estarrecidos as cenas de
depredação e agressões, contraditoriamente, no meio de manifestações populares com reivindicações justas,
necessárias, oportunas e mais do que isso, urgentes, dentre elas a educação.
Finalizo relembrando, o já citado
por mim, refrão de uma canção da Leci Brandão:
“Na sala de aula é que se forma o cidadão, na sala de aula é que se muda
uma nação.” Neste campo sim, o Brasil precisa urgentemente virar o jogo. Um
jogo que o Japão nos está mostrando que
já venceu. Aprender com o futebol, um esporte de equipe, que o jogo da cidadania
também se exerce coletivamente. E os “melhores do mundo”, entre aspas, podem ter uma aula com os adversários, mesmo
os que aparentemente lhe são inferiores.
Pense nisso!
(Se achou esta crônica interessante, poste o seu comentário
abaixo. Sua referência é importante para nós.)
*Cláudio Silva é mestre em Educação, ex- Secretário de
Educação de Apucarana-PR e ex- presidente da União Nacional dos Dirigentes
Municipais de Educação-UNDIME/PR. Diretor da Escola Nossa Senhora da Alegria
(mais textos do professor
poderão ser acessados no SITE Prof. Cláudio Silva Educacional)
Ficha Técnica:Estrutura:
Jornalista Cláudia Alenkire Gonçalves da Silva – MTE 000 9817 /PR Revisão: Psicóloga Mestranda Cláudia Yaísa Gonçalves
da Silva.
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