segunda-feira, 2 de junho de 2014

PARTICIPAÇÃO DOS PAIS NA ESCOLA X RENDIMENTO ESCOLAR DOS FILHOS

ARTIGO  ( GAZETA DO POVO)

A Coreia do Sul é aqui?

Publicado em 02/06/2014 | 

A abordagem da questão da educação no Brasil, com frequência, se faz com dados comparativos em relação a outros países. Entre essas comparações, destaca-se a da Coreia do Sul. Na década de 50, saído de uma guerra, o país tinha indicadores semelhantes aos do Brasil. Passadas cinco décadas, enquanto o Brasil patina em busca de modelos públicos e privados de excelência, os coreanos têm um amplo portfólio de realizações e conquistas na área. Esse nível elevado de escolaridade se traduz em melhor formação geral da população, com impactos na produtividade e capacidade de inovação tecnológica do país.
Poderia abordar essa diferença sob a ótica das políticas públicas. Como isso já tem sido feito por estudiosos e articulistas ligados à educação, vamos seguir por outro caminho: que está ao alcance de todas as famílias, independentemente das características da escola que seus filhos frequentam ou da gestão federal, estadual ou municipal a que estão ligados. Ressalto que isso não significa diminuir a importância da gestão da educação, mas sim, chamar a atenção para outro aspecto, menos comentado da questão.
Pesquisa realizada com 25 mil alunos do estado do Rio de Janeiro, pelo Instituto Ayrton Senna (IAS) e pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgada em 25 de março último, revelou que o incentivo das famílias tem impacto direto no grau de organização e responsabilidade de cada aluno. E que estes elementos “adiantam” em 4 meses o nível de aprendizado de Matemática, em relação ao de um aluno que não tenha essas características.
Estudo de 2009, realizado pelo economista Naércio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), já tinha revelado que “nenhum outro fator tem tanto impacto para o progresso de um aluno quanto a interferência adequada da família. Além desse impacto se fazer sentir, positivamente, por toda a vida adulta do estudante, apenas incentivar o filho a fazer a lição de casa e a ir à escola todos os dias, providenciar um lugar tranquilo onde ele possa estudar e comparecer às reuniões de pais tem o efeito de elevar as notas em torno de 15%”, segundo a pesquisa do Insper.
Voltando à Coreia do Sul, é sabida a valorização que as famílias conferem à educação dos filhos. Esse incentivo se traduz em ações práticas, de acompanhamento real e cobrança em relação à responsabilidade e ao envolvimento dos filhos no processo educativo. As famílias brasileiras, em regra, declaram saber a importância da educação para o futuro dos filhos. O tema é sempre pauta importante em qualquer pesquisa sobre quais deveriam ser as prioridades dos governos de qualquer esfera. Mas pergunto: qual a real valorização – concreta, cotidiana – com a formação de seus filhos? Quem trabalha em escolas – públicas e privadas, inúmeras vezes se deparou com a ira dos pais diante de uma emenda de feriado com aulas ou, ainda, com a baixíssima frequência das famílias em reuniões que dizem respeito ao dia-a-dia dos alunos na escola.
Volto a ressaltar: as políticas públicas de educação, boa atuação dos gestores, salários dignos e atraentes para os professores (tal qual na Coreia do Sul) são cruciais para elevarmos nossos níveis de qualidade no ensino. Mas não podemos deixar de discutir o que realmente valorizamos e o quanto estamos dispostos a oferecer tempo e atenção para fazer da dedicação aos estudos um verdadeiro “valor” nacional. De forma alguma, acho que as culturas brasileira e coreana sejam assemelhadas e, portanto, não acho defensável pensar numa “cópia” de organização e comportamento familiar. Mas, à nossa maneira, precisamos nos envolver mais e, efetivamente, colocar a educação realmente no topo de nossas prioridades. Quanto mais a valorizarmos, melhor será o aprendizado e a formação geral de nossos jovens e, por consequência, maior será a cobrança e a necessidade de respostas boas por parte de nossas autoridades a esta questão crucial.
Tania Fontolan, historiadora e antropóloga, é especialista em Administração Escolar e diretora-geral do Sistema Anglo de Ensino e do pH Sistema de Ensino.
Acesso:http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=1473119&tit=A-Coreia-do-Sul-e-aqui?
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