01.06.2014
Em 10 anos, a participação dos alunos da rede privada no Brasil saltou de 12,4% para 17,2% no ensino básico. No Paraná, a educação paga ganhou 52 mil estudantes no período. Enquanto isso, rede pública tem cada vez menos alunos
Salas de aula do Colégio Universitário e da Escola Estadual Benjamin Constant, em Londrina: os dois sistemas vivem situações inversas com a nova ordem econômica
O aumento do poder aquisitivo dos brasileiros na última década está provocando mudanças no sistema educacional do País. Com mais dinheiro do bolso, muitas famílias estão optando por tirar os filhos da escola pública para matriculá-los em instituições particulares, na esperança que estas escolas ofereçam uma educação de mais qualidade que garanta ascensão social e um futuro tranquilo.
A realidade é expressa nas estatísticas divulgadas anualmente pelo Ministério da Educação (MEC). Em 2004, conforme as Sinopses Estatísticas da Educação Básica, as escolas públicas brasileiras registravam 49,1 milhões de matrículas nas redes estaduais, municipais e federal, caindo para 41,4 milhões em 2013, o que indica redução de 15,5%. No sistema privado, ao contrário, o movimento é ascendente. Em 2004, as escolas particulares registravam 6,9 milhões de matrículas. No ano passado, o número já totalizava 8,6 milhões de documentos registrados, com aumento de 24%. Em 2004, portanto,a rede privada respondia por 12,42% das matrículas. Em 2013, o percentual aumentou para 17,2%.
Entre os estados do Sul, a rede particular do Paraná foi a que mais ganhou alunos, conforme dados do sistema de registro de matrículas do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ligado ao MEC e responsável por elaborar anualmente o Censo Escolar.
Em 2004, os alunos do sistema privado totalizavam 136.225 matriculas, ou 8,09% de toda a massa de 1.683.914 estudantes do ensino fundamental do Estado. Em 2013, são 184.441 estudantes em escolas particulares, que correspondem a 12,46% de todos os 1.480.914 matriculados nos dois sistemas. Na ponta do lápis, os dados indicam que a rede particular ganhou 52,2 mil alunos no período, enquanto a rede estadual perdeu 251 mil.
Nas principais cidades do Paraná, o incremento da rede privada é ainda mais acentuado, reforçando a tendência de escolha das instituições particulares pelas famílias com condições para a mudança. Em Londrina, os 12,9 mil alunos do sistema particular em 2013 representavam 20% do total de alunos, contra a fatia de 11,51%, ou 8,1 mil estudantes, em 2004.
Em Curitiba, os números são ainda mais expressivos. Ano passado, 24,84% dos 227.385 estudantes do ensino básico da capital escolheram pagar para estudar, contra a representatividade de 16,14% de alunos nas escolas privadas em 2004.
A tendência de crescimento na preferência pelas escolas particulares não passa despercebida por pesquisadores. O professor Ocimar Alavarse, da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de São Paulo (USP), reconhece o aumento acentuado das matrículas em escolas particulares e explica que esta migração é motivada pela melhoria do poder aquisitivo dos brasileiros. "A expansão das escolas privadas resulta do crescimento econômico", reforça.
Segundo ele, as famílias que vivenciam aumento de renda investem na educação privada dos filhos por acreditarem que a ascensão social possível de garantir um futuro melhor passa por uma escola que consideram de melhor qualidade. "Esta camada da população está disposta a pagar pelo sucesso dos filhos, ao invés de se mobilizar para cobrar mais eficiência do sistema público. Por isso, fazem muitos sacrifícios", diz.
Na prática, porém, Alavarse questiona que a decisão pela escola pública nem sempre vai garantir o sucesso esperado pelas famílias. Conforme o pesquisador, muitas escolas privadas oferecem educação similar ou até pior que a encontrada na rede pública. E cita um levantamento que ele próprio realizou sobre os resultados do Enem para comprovar a tese. Conforme a pesquisa, Pouco mais da metade das escolas privadas atingem os mesmos resultados obtidos por 98% das escolas públicas no exame, indicando que, provavelmente, menos de 50% dos alunos matriculados em instituições particulares estão tendo acesso a uma educação de qualidade realmente superior às escolas do sistema público. "Mas como as notícias sobre a educação pública são sempre muito negativas, estabeleceu-se esta crença de que é muito ruim", acrescenta.
Ele ressalta, ainda, outra informação consolidada pelos censos escolares: a esmagadora maioria de estudantes está na rede pública, que precisa de atenção e investimentos para melhorar a qualidade da educação oferecida. "O crescimento do sistema privado não muda o quadro educacional brasileiro", afirma. Neste sentido, ainda existem muitos desafios a serem vencidos. Para Alavarse, um dos mais importantes é conquistar a proeficiência em leitura entre os alunos dos anos iniciais do ensino fundamental. "Avaliações internacionais realizadas há anos já comprovaram que o País precisa melhorar neste sentido", afirma.
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Carolina Avansini
Reportagem Loca
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