quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

OS CUIDADOS NA EDUCAÇÃO DOS PEQUENOS

                      
                                                                          * Por Cláudio Silva

O cérebro  funciona  como um gravador  de  alta  fidelidade. As sensações  associadas  com a  experiência  são registradas. A criança  grava  uma  imensa   coleção  de  registros   feitos  no cérebro. São fatos  externos  não questionados, impostos  ou percebidos  por  uma  pessoa  em seus  primeiros  anos  de  vida. É  o período  anterior  ao nascimento  social do indivíduo, quando  ele  sai  de  casa, em resposta  às  exigências  da  sociedade, e  entra  na  escola.

As lembranças  mais  significativas  são aquelas  relacionadas  a  exemplos  e  pronunciamentos  dos  pais. A situação da criança , sua  dependência  e  capacidade  para  construir  significados, tornam  impossível   modificar, corrigir  ou explicar  qualquer  fato  registrado. Assim, se  os  pais  são hostis  e  estão  sempre  brigando, por  exemplo, a  criança  acaba  gravando  o terror  produzido  ao seu redor.

Não  há  modo  de  incluir  nesta  gravação  a  briga.  Neste  conjunto  de  lembranças  também  estão  os  vários  “não” dirigidos  à  criança, assim  como  as  expressões  de  angústia  e  horror  provocados  no rosto  da  mãe. Do mesmo  modo  são  registrados  os  arrulhos  de  prazer de  uma  mãe  feliz  e  a  satisfação de  um pai orgulhoso.

Mais  tarde, vêm  os  pronunciamentos  mais  complicados  feitos  pelos  pais, como   “você será  julgado  pela  companhia  com quem andar” ou  faça  aos  outros  aquilo  que  deseja    a  si mesmo” . O ponto  importante  é  que  essas  regras  , boas  ou não, são guardadas  como  “verdade” porque  vêm  de  “gente  grande”. As  normas  são  rigidamente  interiorizadas  como  um  conjunto  de  dados  essenciais  à  sobrevivência  do indivíduo  em grupos. O registro  é  permanente  e  reproduzido  durante  toda  a  vida.

Outra  característica  da  psicologia  infantil  é  a  fidelidade  dos  “ registros  de  incoerência” . Os  pais  dizem  uma  coisa  e  fazem outra. Eles  dizem   “não  minta”, mas  contam mentiras. Dizem  às  crianças  que  fumar  faz  mal  à  saúde, entretanto,  fumam. Não  é  seguro  para  a  criança  questionar  essa  inconsistência  e,  por  isso, ela  se  sente  confusa. Como  estes  dados  lhe  causam  confusão  e  medo, ela  se  defende  desligando  a  gravação. Ou seja, quando  o exemplo  é  discordante  ele  é  reprimido  ou,  em casos  extremos  , totalmente bloqueado.

Uma  pessoa  cujas  primeiras  instruções  foram  dadas  com severa  intensidade  pode  achar  mais  difícil  encaminhar  os  métodos  antigos  e  se  fixar neles, tendo  desenvolvido  um  compulsão  de  “fazer isto assim e  não de  outro  modo”.  Essas  regras  são  a  origem  das  compulsões, singularidades  e  excentricidades  que  aparecem  num comportamento  posterior.

Há  outras  fontes  de  dados  além  dos  pais  físicos. Uma  criança  de  três  anos  de  idade  que  se  senta  diante  de  um  aparelho  de  televisão, durante  muitas  horas  por  dia, está  gravando  tudo o que  vê. O  programa  que  ela  assiste  é  um conceito  “ensinado”  de  vida. Se  assiste  programas  de  violência, a  criança  conclui  que terá  permissão para  ser violenta. 


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*Cláudio Silva é mestre em Educação, ex- presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação-UNDIME/PR, foi Secretário de Educação de Apucarana-PR (gestões  2005-2008 e  2009-2012 ) e  Secretário  de  Ensino  Superior ( 2012)

mais textos do professor poderão ser acessados em CRÔNICAS EDUCATIVAS DO  PROF. CLÁUDIO SILVA

Ficha Técnica:
Estrutura: Cláudia Alenkire Gonçalves da Silva (acadêmica de jornalismo)
Revisão: Prof.ª Doutoranda Leila Cleuri Pryjma



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Um comentário:

leila disse...

Prof.Cláudio, parabéns pelo texto. Este artigo retrata bem que a representação social que passamos aos nossos filhos, alunos, companheiros de trabalho deve estar muito bem elaborada. Um forte abraço fraterno.