Em 'Instantâneos', Edla Van Steen captura flagrantes do cotidiano que inspiram textos curtos, mas poderosos
18 de março de 2013 | 2h 08
Ubiratan Brasil - O Estado de S.Paulo
São como pequenas pílulas que, ingeridas, provocam de gargalhadas a espanto. Assim podem ser descritos os textos de Instantâneos (Giostri), novo livro que a escritora Edla Van Steen lança hoje e que chega em formato original: edições bilíngues em inglês e francês. São textos curtos, alguns de apenas um parágrafo, que mostram como a vida sempre é um espanto. Sobre a experiência, Edla respondeu as seguintes perguntas.
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Paulo Giandalia/AE
'Criei histórias para imagens que me tocaram'
Como foi escrever textos tão enxutos?
Edla Van Steen - Verdade que os contos são curtos. Curtíssimos, não é? O que faz deInstantâneos um livro experimental para mim. A escrita minimalista (nos meus últimos livros, eles eram enormes, alguns com mais de quarenta páginas) me fez rever palavras, dominar ímpetos ficcionais, reduzir a primeira vez, a segunda, reduzir mais, encontrar a essência do que eu queria registrar. De repente, a vontade de contar o instante captado com uma simples imagem, como um poeta sente o momento, como um fotógrafo amador faz o snap-shot sem qualquer intenção. Quem são aqueles personagens? Como se chamam? Que vida levam? O que conversam? Inventei para entender.
Textos curtos limitam a escolha do tema?
Edla Van Steen - Não sei. Parti sempre de uma imagem que me tocou. Em Na Árvore,por exemplo, dois mendigos conversando. Ou Rouxinol, uma figura curiosa que andava cantando numa rua de Copacabana. Castelo a demolição de um pequeno prédio art déco. Quem eram seus moradores? O que aconteceu com eles? Quando comecei a escreverInstantâneos, os contos eram longos. Então, percebi que eu perdia a intenção de contar histórias como quem faz uma Polaroid. Se uma foto pode dizer tudo, por que eu não poderia também contar tudo em poucas palavras? Acho que minha vida pessoal e profissional influenciou um pouco a escolha. Eu estava envolvida com o Roteiro da Poesia Brasileira, da Global Editora, levantamento de 500 anos de poesia, enfrentando toda ordem de problema com herdeiros para a sessão de direitos autorais, fazendo esforço para contornar a recusa de muitos na publicação, e tantos problemas mais, além de estar atenta a todas as outras coleções que eu dirijo. Meu tempo era nenhum. Os Instantâneos foram meus momentos íntimos, meu refúgio. Criar histórias para imagens que, de alguma maneira, me tocaram.
Foi preciso fazer muitos esboços até atingir o ideal?
Edla Van Steen - Não vou dizer que foi fácil. Eu estava habituada a contar histórias cheias de detalhes e descrição de sentimentos e situações. De criar climas para um final contundente. Mais da metade dos 50 contos foi reescrito muitas vezes. Mas, depois, eu já conseguia pensar mais curto, usar poucas palavras. Tenho um livro quase pronto, de contos longos. Vou precisar de um certo distanciamento deste Instantâneos para acabá-lo. "Uma gaiola saiu a procura de um pássaro". Não me lembro de quem é esse verso. Eu só acrescentaria: "E encontrou". Para que dizer mais?
Você acredita que a literatura está dando conta da realidade, tão complexa e acelerada?
Edla Van Steen - Para quem gosta de ler, tudo é um registro da realidade em que se vive. Com mais ou menos palavras. Tenho ido, de vez em quando, falar em algumas escolas, alunos a caminho da universidade. Peço que me contem o que leram. Os internautas reclamam de livros muito longos, mas admitem gostar de Machado de Assis. Não temos distanciamento suficiente para saber se a literatura de hoje está dando conta da realidade, como João Antonio e Plínio Marcos descreveram a de São Paulo, Ary Quintella e Nelson Rodrigues retrataram a carioca, para citar apenas alguns.
Em sua opinião, até que ponto a linguagem pode resistir ao processo de homogeneização que parece acontecer hoje em dia?
Edla Van Steen - Será que está havendo, mesmo? Não acredito. Tenho lido excelentes poetas. As palavras ganham força quando bem empregadas. A própria imprensa está mudando, na linguagem e nas fotos. Perdeu um certo ranço. A homogeneização existia, é verdade, na teledramaturgia, com seus erros de português, sua linguagem pobre, sua falta de verossimilhança. Mas apareceu João Emmanuel Carneiro e salvou o gênero (com 'Avenida Brasil'). A literatura brasileira, em geral, sempre teve qualidade. E acho que a onda mundial de autores que publicam seus próprios livros denuncia o descontentamento com a falta de garra do mercado editorial. José Olympio era um editor de faro, apostou nas gerações de 30, 40 e 50, lançou nossos melhores escritores, todos desconhecidos do grande público. Hoje, os autores estão desprotegidos e as editoras torcem o nariz para não "famosos", quer dizer, aqueles que não estão na mídia. Tem muita gente boa escrevendo por aí.
INSTANTÂNEOS
Arte Aplicada Galeria de Arte
Rua Haddock Lobo, 1.406. Hoje, 19h (Giostri Editora, 134 págs., R$45).
Professor Cláudio Silva no Facebook
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