quinta-feira, 7 de março de 2013

Quando os pais têm pontos de vista diferentes sobre a educação dos filhos ( Por Ana Kessler )


Ser pai e mãe é estar em constante negociação. Ninguém é obrigado a ter o mesmo ponto de vista, porém é importante respeitar algumas regras, veja quais.



Por Ana Kessler 
“Posso não concordar com as palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las”. A famosa frase do pensador iluminista francês Voltaire é difícil de aplicar quando o assunto é educação de um filho. Principalmente, quando a opinião define rumos importantes como: em que escola a criança vai estudar, que tipo de alimentação seguirá, ou religião (se os pais pertencerem a credos diferentes), quem serão os padrinhos, que esporte o filho deve praticar. Aí um proíbe guloseimas e o outro vai lá e dá uma balinha, rola saia justa até sobre a escolha do futuro time de futebol!


Conheço um casal que a mãe é Vascaína roxa e o pai Fluminense doente. Na maternidade, o bebê ganhou tantos presentes dos dois times que precisava nascer de novo para conseguir usar tudo. Outro, a mãe é natureba de carteirinha e o pai, trash food total, dá até refrigerante para criança na mamadeira. Já falei aqui sobre a polêmica da Bia ter ganhado de presente do pai um celular, quando eu a havia proibido de ter um antes dos 12 anos. Vida de mãe não é fácil.

O ex-marido de uma amiga, diante da dificuldade das crianças se concentrarem nos deveres escolares, saiu em defesa dos filhos dizendo que eles só precisavam estudar mesmo na faculdade. Ela ficou arrasada e fechou o tempo, pois se mata no dia a dia para que os dois pré-adolescentes se esforcem e o pai larga uma dessas, invalidando todo o seu esforço e a colocando numa saia justa. Afinal, ele fica de bonzinho, o que é legal e “amigão”, e ela a chata que cobra e é durona. Afe!


Se entre casais sob o mesmo teto a desavença corre solta, imagine entre pais separados, quando cada um tem sua casa e regras próprias. A mãe deixa a criança ficar acordada até tarde, o pai permite que enforque o banho, numa casa pode fazer o dever assistindo à TV, na outra comer biscoito recheado antes do almoço... e por aí vai.

Ser pai e mãe é estar em constante negociação. Ninguém é obrigado a ter o mesmo ponto de vista, porém acho importante respeitar algumas regras:

Jamais desautorize o outro na frente da criança – Com o pai da Bia eu tinha um acordo: nunca o contradizia e vice-versa. Se fosse o caso, a gente discutia o tópico e reestipulava a regra (ou não). Mas concordávamos que pior do que uma ordem mal dada era a desmoralização da autoridade. Quando isso acontece, a criança fica confusa sobre quem obedecer. E pode se valer do jogo de poder entre os pais para manipulá-los.

Criem códigos quando não concordarem – Um olhar, um gesto, um pigarro, qualquer combinação vale para sinalizar que a discussão do assunto ou a ordem dada ao filho deve ser interrompida e reavaliada em particular. 

Defina o que é ou não negociável – Estabeleça (e esclareça) com o pai da criança os pontos que para vocês são inegociáveis. E negociem. Ele acha inaceitável a cria dormir depois das 21h? Acate e troque por jamais deixar o filhote sem lavar as mãos quando estiver sob a tutela dele. E assim por diante. Entre pais separados, isso funciona superbem e poupa discussões desgastantes. Depois que tiverem definido os pontos principais, sentem-se com o filhote e deixem as regras bem claras. É bom que saiba que vocês estão afinados e sabem o que é melhor para ele. Transmite segurança, harmonia e o principal: ele se sente amado.

Evite o “empurra-empurra” – Quem já não ouviu o clássico “Ah, pergunta para a sua mãe”? Quando chega lá, a resposta é: “Fale com o seu pai”. A criança fica feito barata tonta de um lado para o outro esperando uma solução que se arrasta. Se ponha no lugar dela, é muito chato! Ademais, ela fica com a sensação de que “ninguém dá bola pra mim”, ninguém quer resolver o problema dela. Gera insegurança, ela não sabe se conta com o pai ou com a mãe e pode acabar não contando com nenhum dos dois. Dá desânimo, ela fica desestimulada a questionar e ter ideias próprias. Não sabe o que responder? Leia o próximo tópico:

Admita que não sabe – Escute atentamente o que o seu filho tem a dizer ou está perguntando. Se não tiver uma opinião formada ou estiver em dúvida, por exemplo, se deixa ou não deixa ele ir dormir na casa de um amiguinho, ganhe tempo. Admita que é uma questão para a qual você não tem uma resposta naquele momento. Garanta-lhe que vai pensar no assunto e dê uma data/hora limite para dar o veredicto final. Esta postura transmite à criança a certeza de que você está empenhada no assunto e que sabe o que é melhor para ela. Você pode até dizer que vai conversar com o pai, mas é você quem tem as rédeas da conversa, não o pequeno. Adultos decidem, crianças obedecem. Sempre.

Comigo e com a Ana Bia esse último esquema funciona às mil maravilhas. Ela respeita tanto que criou até uma perguntinha autoconsolo: “Mas mãe, você acha que vai deixar? Só achar já está bom”. É uma espécie de ‘medidor de intenções’ que a ajuda a controlar a própria ansiedade. Se digo “talvez sim”, ela sai saltitando “Yes! Yes!”, numa pré-comemoração, mesmo ciente de que posso voltar atrás. Se falo “provavelmente não”, ela murcha feito flor sem água e sai teatralmente com os ombros encurvados. Acho graça. Com esse tamanhinho já entendeu que, se estamos inclinadas a ceder, acabamos cedendo. De qualquer forma, aqui em casa sou pai e mãe. Não há brigas, nem discussões, mas a balança nunca para de pender pra lá e pra cá. Nunca.  


E você, como resolve as divergências de opiniões sobre a educação dos filhos?

* Ilustração da artista plástica Camila Morita

Publicitária, escritora e blogueira, foi coordenadora do núcleo de internet do Jornalismo da TV Globo/RJ, editora do site Bolsa de Mulher e hoje é editora-chefe do portal feminino Tempo de Mulher. Gaúcha de Porto Alegre, morou em Londres, Nova York, Rio de Janeiro e está apaixonada por São Paulo. É mãe da Ana Beatriz, a "Ana Bia", 7 anos, uma menina faceira, carioquinha de nascimento, porto-alegrense de alma e paulistana de coração. Juntas, entregam-se com muito amor ao exercício de serem mãe e filha.                                                                                                                 


Fonte acessada: http://estilo.br.msn.com/demaepramae/blog/ana-kessler/post.aspx?post=a9785be8-c2f1-4db2-beb6-ca213a832f89


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