Apesar de pacto nacional, educação de alunos de até 8 anos precisa ser detalhada
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Tabulações feitas pelo GLOBO nos dados do Censo do IBGE mostram que, entre as crianças mais ricas, de famílias com renda per capita superior a R$ 1.020, a imensa maioria (83%) já está alfabetizada aos 6 anos. Entre as mais pobres (renda per capita inferior a R$ 128), são menos da metade (42%). Aos 10 anos, o analfabetismo entre as mais ricas é residual (1%), mas ainda é significativo entre as mais pobres, chegando a 14%. No total da população dessa idade, o analfabetismo atinge 6%.
De acordo com o ex-secretário executivo do MEC e presidente da organização não governamental Instituto Alfa e Beto, João Batista Oliveira, crianças de 6 anos já são capazes de entender o código alfabético e compreender como as letras transcrevem os sons da língua. Mas, para ele, o MEC precisa definir melhor o que entende como alfabetização, e isto não está explicitado no texto do pacto:
— Alfabetizar é aprender como funciona o alfabeto. Não são necessários mais que alguns meses para aprender isso. Nas escolas particulares, a alfabetização ocorre aos 6 anos. O MEC não define o que é alfabetizar.
Compreensão de texto e matemática
A professora do Programa de Pós-graduação em Distúrbios de Desenvolvimento da Universidade Mackenzie Alessandra Seabra teme que os professores responsáveis por alfabetizar as crianças fiquem perdidos sobre o que se espera dos alunos de 8 anos.
— Os professores podem pensar que apenas para dominar o código alfabético as crianças podem levar três anos. Ou seja, o professor pode ficar três anos fazendo o que poderia fazer em um ano — afirma.
O secretário de Educação Básica do MEC, Antônio César Callegari, concorda que é possível fazer com que os alunos, aos 6 anos, sejam capazes de compreender o código alfabético. Mas diz que o objetivo do ministério é que, aos 8 anos, eles saibam mais do que isso, que consigam entender e construir textos e resolver questões matemáticas.
De acordo com Callegari, as definições sobre o que se espera das crianças em cada etapa dos três primeiros anos do ensino fundamental em relação à alfabetização estarão expressas de forma clara em um programa, que está sendo finalizado pelo governo, de formação continuada para os 315 mil professores alfabetizadores.
— Esse programa de formação continuada dos 315 mil professores alfabetizadores no Brasil contém os objetivos e direitos de aprendizagem durante o ciclo de alfabetização, esclarecendo quais são as habilidades, os conteúdos e direitos que qualquer criança tem que ter concretizado durante o ciclo de alfabetização. Estamos organizando quais são os objetivos intermediários ao final de cada uma das etapas dos três primeiros anos do ensino fundamental — afirma Callegari.
Assim como o MEC, a ONG Todos pela Educação tem como meta lutar para que todas as crianças estejam plenamente alfabetizadas aos 8 anos, sejam capazes de interpretar um texto, compreender o contexto dele e tenham noções mínimas de matemática. Exame aplicado pela ONG em 2011 em escolas públicas e privadas concluiu que apenas 56% das crianças que terminaram o 3º ano do ensino fundamental compreenderam o que era esperado em leitura; e 43%, em matemática.
— Se a criança não consolida a alfabetização na idade certa, ela compromete o seu desempenho nos anos seguintes — afirma a coordenadora-geral da ONG, Andrea Bergamaschi.
Presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undimes), Cleuza Repulho lembra que cada criança tem um ritmo próprio e diz que apressar a escolaridade, fazendo com que os alunos pulem etapas, não é aconselhável.
— Uma criança pode ser alfabetizada antes (dos 8 anos), mas não queremos forçá-la a ter o mesmo ritmo. O aluno pode até entender o código alfabético aos 5 anos, mas o que não pode é ultrapassar os 8 anos sem estar alfabetizado — afirma Cleuza.
Preparo de professor é criticado
O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa prevê que sejam feitas três avaliações para analisar se os estudantes sabem de fato ler e escrever: no início e no final do 2º ano do ensino fundamental, além de uma no final do 3º ano. E estão previstos ainda a formação continuada de professores alfabetizadores e o apoio do MEC com material didático.
A maneira como as universidades e os cursos preparam os professores que vão ensinar as crianças a ler e escrever é alvo de críticas de especialistas.
— A formação de professores está muito distante do que é necessário. Tem muito professor que chega com um conteúdo grande em sala, mas não sabe como gerir uma sala de aula, não está preparado para a prática — afirma Andrea Bergamaschi.
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