Hoje
quero dividir com vocês, principalmente educadores e
pais, a crônica “Flores de
Plástico”, escrita pela minha
esposa para recepcionar os
alunos e pais na
volta às aulas. Um verdadeiro repensar
da vida e da
ação educativa. Boa reflexão!
Flores
de Plástico
*Por Luzia Silva
Minha mãe
gostava muito de flores. Todos os tipos: em ramas, galhos, arbustos, folhagens,
árvores... Minha lembrança de infância sempre vem à tona, ela plantando,
replantando, regando, podando. Os jardins da minha casa sempre estavam
floridos. Ela tinha flores de todas as estações. No verão eram as rosas de
todas as cores que floriam, a trepadeira de rosinhas brancas compunha uma obra
de arte natural, também o bico-de-papagaio brotava e coloriam de vermelho nossos
jardins e os antúrios floriam majestosos. No outono era a vez das
margaridinhas, dálias, flor-de-maio, azaleias, gérberas e rabo-de-galo
aparecerem. No inverno as begônias, lírios, copo-de-leite, flor-de-sino. Na
estação das flores (Primavera) infinidades de flores embelezavam nossos
jardins, crista de galo, boca-de-leão se destacavam.
A cada
visita a uma comadre, ela voltava com uma “mudinha” de uma espécie diferente
para o nosso jardim.
Sempre passava parte do dia a cuidar
de suas flores. Quando a florada se ia, era tempo da poda, dos replantios, da
adubação, na esperança de mais flores fortes e belas na próxima florada. Quando
tinha que se ausentar de casa para viagens, deixava uma lista de recomendações
para os cuidados com seus jardins.
Tinha, também, flores de plástico ganhadas de presente. Mas essas
passavam sempre despercebidas por ela, a não ser de três em três meses, quando
enfiava os feixes de cabeça para baixo num balde com sabão em pó e deixava de
um dia para o outro de molho para limpar as bostas de mosquitos que se
depositavam nas pétalas. Nunca entendi porque os danados dos mosquitos
insistiam tanto de fazer das flores de plástico da minha mãe o seu sanitário,
nem minha mãe entendia!!! Na verdade, ela pouco se interessava em cuidar de
algo sem vida. Achava perda de tempo, mesmo com um colorido e formato imitando
as verdadeiras, comentava “coitadinhas não conseguem embelezar, por mais que
tentam. Como podem encher de beleza algo que não tem vida? Que não podem
perfumar o ambiente? Que não necessitam de carinho e cuidados? Que não tem nada
para dar?” Minha mãe, foi uma mulher de grande sabedoria e sensibilidade.
Hoje, quase 30 anos depois que ela partiu, ainda cuido de mudas de antúrio que foram plantadas por ela e embelezam o meu jardim. Não me canso de admirá-los, como são lindos, majestosos! Como foram cultivados por alguém especial da minha vida, para mim são únicos! Tenho muitas flores em meus jardins. Aquela experiência tão forte de infância está muito presente na minha vida, tanto que faço questão de cultivá-las, como numa “imitação inconsciente” ou “ação consciente de amor/saudade”, me unindo a minha mãe e sentindo muito presente seu carinho, amor e cuidados.
Não tenho em minha casa flores de plástico, a não ser umas e outras que ganho de vez em quando e tenho que mergulhar no sabão em pó de três em três meses para tirar as cacas de insetos. No entanto, minha casa sempre está florida com flores para todas as estações, orquídeas, bromélias, dama do abismo, violetas, flor de maio, lírios, beijinhos, azaleias, dálias, primavera, hortênsias, sálvias e claro, os antúrios (da minha mãe), lindos e maravilhosos!
Penso que minha mãe não me deixou
simplesmente uma lição de como deixar a casa mais humana e bonita cultivando
flores verdadeiras, deixou uma grande lição para a minha missão de educadora,
pois além de cuidar das minhas plantas verdadeiras também cuido de pessoas.
Elas precisam de mim, do meu cuidado, do meu amor, das podas quando necessário,
dos incentivos na medida certa, para florirem! Serão plenas na medida em que
desempenho minha vocação em plenitude! Adoecem, sofrem, morrem de “sede e
fome”, se descuido delas. Elas precisam da minha sensibilidade para com os seus
sentimentos. Precisam me observar a cuidar “das minhas flores verdadeiras” para
aprender a amar e também sentir a necessidade de amar e cuidar daqueles que
vivem ao seu redor. Assim como aprendi a ser mais sensível com o que tem vida,
por imitação, elas também aprenderão, observando-me.
Muitas vezes me vejo tentada a trocá-las por flores de plástico, afinal
é só mergulhar no sabão em pó de três em três meses!!! Neste momento lembro-me
de minha mãe, do seu zelo por sua vocação, seu amor incansável pelas suas
flores verdadeiras e me encorajo a cultivar seres verdadeiros!
Daqui a pouco essa escola estará repleta de flores verdadeiras, porém as
estações estarão ainda por acontecer. Virá o outono, o inverno, a primavera e
enfim o verão novamente. Cada estação com suas flores e cuidados especiais. O
ano todo para construir. Tem muito, muito serviço pela frente. Afinal, flores
verdadeiras exigem muito mais de mim do que as de plástico, e respeitar o tempo
da senhora natureza exige muita dedicação. Somos tentados a não aguardar a
estação correta para o plantio, temos pressa. Pressa não combina com educação,
não combina com flores verdadeiras. Obedecendo ao tempo da natureza e cumprindo
com nossa parte, no tempo certo colheremos as flores. Quanto às flores de
plástico?! Bem, particularmente, não há nada que eu possa comparar à satisfação
de contemplar uma flor de antúrio cuidada por mim, sabendo que quem a plantou o
fez com muito amor e zelo há mais de 60 anos!
Sejam
bem-vindos!
Uma
boa semana!
*A
Professora Luzia Silva é especialista e pesquisadora em educação, diretora e sócio
proprietária do instituto Escola Nossa Senhora da Alegria, em Apucarana (Pr).
.
Nova crônica: PERDÍ MEU TEMPO? http://profclaudiosilva.blogspot.com.br/2012/06/perdi-meu-tempo.html
Mais crônicas do Prof. Cláudio Silva : http://profclaudiosilva.blogspot.com.br/2011/10/cronicas-sobre-educacao-do-prof-claudio.html
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4 comentários:
Parabéns pela crônica que nos faz refletir como devemos cultivar nossa prática pedagógica como sendo uma flor verdadeira que precisa ser cuidada a todo momento, se não for poderemos perder nossa magia de ser educadores de crianças que também precisam ser compreendidas, cada uma a seu tempo.
Um abraço Prof. Claudio
Muitas saudades do tempo em que pude aprender a ser um profissional melhor com sua pratica.
Caro amigo Professor José Arilson,
nossos agradecimentos pelas referências. E cumprimentos pelo brilhante trabalho à frente da Secretaria de Educação de Braganey e pelas importantes contribuições à educação do nosso Estado através da UNDIME.
Professor Cláudio Linda a crônica, para refletirmos,lembra a letra de Nilton Nascimento que usamos sempre em nossos trabalhos aqui em Porecatu "Há de cuidar do broto para que a vida nos dê flor e fruto".
Rosane
Secretaria Municipal de Porecatu
Olá professora Rosane.Grato pela honra do acesso. Somos admiradores do importane trabalho educacional que voces desenvolvem em Porecatú, com 100% das crianças estudando em tempo integral . E com um dos maiores IDEB´s do Brasil. Nossos cumprimentos.
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