29 de agosto de 2009
Fora da escola, achou a literatura
Até os 8 anos de idade, Marcos Lopes cresceu sob os cuidados do irmão
dez anos mais velho, que cuidava dele enquanto os pais trabalhavam para
sustentar a casa em que morava, no Parque Santo Antônio, bairro pobre
da zona sul de São Paulo. Na 2ª série, com problemas na escola, a
professora chamou a mãe de Marcos para dizer que o filho era "burro" e
"não tinha jeito", pecha que o marcou "como uma tatuagem". Na sala de
aula, ouviu ainda a professora cantar para ele uma música que não sairia
das lembranças. "Não sabe, não sabe, vai ter de aprender, orelha de
burro foi feita pra você."
Marcos assumiu o papel de aluno relapso e voltou a repetir na 5ª
série. Para chamar a atenção e mostrar que merecia respeito, pegou um
revólver de brinquedo e assaltou a cantina da escola em que estudava.
Acabou expulso. Com tempo de sobra, fora da escola e nas ruas da zona
sul, aos 14 anos passou a se envolver com outros moleques que não
estudavam. Roubar carros e pedestres, fumar maconha, cheirar cocaína e
curtir as noitadas com o dinheiro dos roubos passou a ser rotina. Nos
anos 2000, prestes a completar 18 anos, entrou para o tráfico.
A situação começou a apertar quando alguns amigos da biqueira em que
trabalhava passaram a ser mortos. Em questão de semanas, foram quatro. E
ele percebeu que era a bola da vez. Foi quando procurou a educadora
Dagmar Garroux, fundadora da Casa do Zezinho, no Capão Redondo, que
ensina a jovens da região uma série de atividades, incluindo inglês,
espanhol, música e artes.
Conversando sobre as mortes que o rondavam e sobre a vida que havia
abraçado, Tia Dag sugeriu que ele desse um tempo e emprestou o livro
Capão Pecado, do escritor Ferrez, que relata o cotidiano do bairro. A
empatia com o livro o levou a novas obras e o estimulou a tentar contar a
vida que havia levado e testemunhado. "Foi o primeiro livro que li na
vida", conta.
Incentivado por outros zezinhos, que ingressavam no vestibular ao
deixar a Casa, passou a levar apostilas para estudar nos intervalos dos
empregos que conseguia. Fez supletivo e aos 21 anos ingressou no curso
de Português e Inglês da Universidade de São Paulo (USP). No ano
seguinte, voltou à escola em que estudava - e de onde foi expulso - para
lecionar português.
Também escreveu um livro, Zona de Guerra, que será relançado dia 20
de setembro, com tarde de autógrafos na Casa do Zezinho. Trabalhando em
uma entidade não governamental e fazendo pós-graduação em Educação
Social, Marcos passou a intermediar conflitos na região. "Eu roubava
para ter status. Hoje busco o respeito daqueles que não se sentem
respeitados, o que busco conseguir compreendendo e ouvindo o que eles
passam. Minha trajetória serve como um fio de esperança e mostra que é
possível mudar."
FONTE: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,o-ex-ladrao-que-virou-professor,426855,0.htm
Acesse
a nova crônica do Prof. Cláudio Silva: "PODERIA
TER OCORRIDO COM O SEU FILHO!"- a tragédia de S. Caetano e outras
crônicas do mesmo autor
em http://profclaudiosilva.blogspot.com/2011/10/cronicas-sobre-educacao-do-prof-claudio.html
Um comentário:
Bela história... sempre penso aqui comigo, que um incentivo talvez seja a melhor coisa que recebemos... uma palavra de auxílio, um elogio...
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