Analista da OCDE diz que engajamento da família melhora desempenho em qualquer classe social
O Globo11.11.12
MARCELLE RIBEIRO
Cumplicidade em família. Beatriz Pont analisou a importância da aproximação dos pais da escola e das tarefas escolares dos filhos
SÃO PAULO - Quanto maior for o engajamento dos pais na vida escolar dos filhos, melhores serão os resultados educacionais das crianças. É o que pensa a analista sênior de políticas educacionais da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) Beatriz Pont. Ela liderou pesquisa da OCDE que concluiu que priorizar os vínculos entre famílias e escolas é uma das políticas que devem ser adotadas para melhorar o ambiente de aprendizado em escolas desfavorecidas — em que problemas econômicos e sociais são mais notados.
A pesquisa mostrou que a atitude positiva dos responsáveis pelos alunos ajuda a criar um ambiente que melhora o aprendizado. Para que isso aconteça, no entanto, é preciso que os sistemas priorizem a criação de políticas públicas a fim de incentivar, especialmente em áreas pobres, uma maior aproximação entre famílias e equipes pedagógicas. Beatriz estará em São Paulo, quarta-feira, para dar palestra sobre a aproximação família-escola, em evento promovido pela Fundação Itaú Social.
O estudo da OCDE diz que pais economicamente desfavorecidos tendem a se engajar menos na educação de seus filhos. Por que isso acontece?
Porque eles sofrem com mais pressões econômicas e dificuldades sociais. Muitas vezes eles não têm flexibilidade no horário de trabalho, ou trabalham por muitas horas, ou são pais solteiros. Pode faltar a eles também o conhecimento sobre o valor que a educação tem. Às vezes, veem uma grande separação entre a escola e o lar. Mandam os filhos para a escola, e é só. Escolas desfavorecidas têm muitos alunos cujas famílias não dão muito apoio e, com frequência, não dão respostas apropriadas às necessidades dos estudantes, porque não têm uma boa equipe e têm gerenciamento e práticas pobres.
O que pode mudar se os pais se engajarem mais na educação das crianças?
Sistemas escolares de alta performance estabelecem expectativas muito altas em relação a todos os estudantes, não importa se ricos ou pobres. E conseguem alcançar essas expectativas. É muito importante que não apenas a sociedade mas também os pais esperem mais dos seus filhos e do sistema educativo. Quanto mais os pais estimularem seus filhos a terem atitudes positivas em relação ao aprendizado, se envolverem na lição de casa e se engajarem na educação, mais o índice de faltas às aulas e de descompromisso com a escola cairá.
De que maneira os pais podem se engajar?
Há duas maneiras principais. Uma é dar suporte às crianças em casa, e a outra é fazer isso na escola. Dar suporte em casa é, essencialmente, ajudar os filhos a priorizarem a leitura, discutir as atividades escolares, ajudar na lição de casa e criar um ambiente de aprendizado em casa. Na escola, os pais devem participar de reuniões organizadas para eles e de outras atividades. Sabemos que os pais tendem a participar menos de atividades escolares voluntárias.
O que é mais importante: dar suporte ao filho em casa ou na escola?
As duas coisas são importantes. O que interessa é assegurar que o processo de escolarização não seja algo separado do lar. Quanto mais os estudantes sentirem que seus pais estão engajados na sua educação, trabalhando com eles em casa, eventualmente indo à escola, encontrando com os professores e vendo os progressos e áreas para melhoria, mais se engajarão no aprendizado.
Então, se as expectativas dos pais em relação à educação dos filhos forem muito baixas, os alunos estudarão menos do que deveriam?
Sim. As expectativas dos pais são a maneira de influenciar as expectativas dos filhos sobre a escolarização. Se os pais não esperam nada da criança, ela não vai se empenhar de verdade.
O que as escolas devem fazer para haver maior participação dos pais?
Sabemos que, em escolas mais favorecidas, há mais engajamento dos pais em relação ao estudo dos filhos. Eles fazem os filhos lerem mais. É por isso que, em nosso estudo, dizemos que, para fortalecer escolas desfavorecidas com baixa performance, um ponto chave a ser priorizado é reforçar a ligação entre a escola e os pais, pois isso fará aumentar as expectativas e o engajamento dos pais e, consequentemente, a expectativa e o engajamento dos estudantes. E isso é ainda mais difícil em escolas menos favorecidas, mas ao mesmo tempo, é mais importante, porque a atitude positiva que existirá no longo prazo também influenciará no ambiente escolar.
E como dever ser a comunicação?
Nós descobrimos que escolas e comunidades estão fazendo isso de diferentes maneiras. Uma delas é promover uma boa comunicação usando diferentes canais, que não sejam muito formais. As escolas devem dar aos pais uma ideia clara sobre o que é esperado deles. Frequentemente não há clareza sobre isso. E aí os pais dizem “nos engajaremos na educação, mas como?”. É preciso definir o que se espera em relação à lição de casa, se o pai deve passar 30 minutos com a criança diariamente vendo os deveres. É preciso dar diretrizes muito claras sobre o que os pais podem fazer para se engajar melhor.
Você pode citar exemplos de estratégias adotadas por outros países?
Na Irlanda, o projeto Conexão Casa-Escola-Comunidade é um serviço que foca na comunidade e tenta criar parcerias entre os pais e os professores. Na França, foi criado um projeto chamado “Caixa de ferramentas dos pais”, em que os pais recebem um DVD com informações sobre como será o ano escolar. Os pais são convidados a participar de reuniões durante o período letivo para ouvir não apenas sobre a criança mas também sobre como a escola se organiza, como ajudar na lição de casa e sobre saúde.
O estudo da OCDE diz que a lição de casa pode ser um importante canal de comunicação entre os pais e a escola. Como?
A lição de casa é importante porque é uma maneira de os pais saberem como o aluno está, se ele está aprendendo matemática, literatura e como ele está se saindo em relação ao processo de aprendizado. O dever de casa força os pais a focarem na educação de seus filhos de maneira bem clara.
Pais que não completaram os estudos podem estimular o processo de aprendizagem das crianças?
Sim. Alguns até cobram muito mais de seus filhos para que eles terminem os estudos, porque sentem que eles mesmos não tiveram essa oportunidade. Apesar de não terem concluído os estudos, podem estimular as crianças a lerem mais e a fazerem o dever de casa. Podem reservar uma área da casa e um horário para a criança fazer a lição. Podem perguntar sobre o progresso dos filhos diariamente. Em alguns países, pais que não concluíram os estudos voltaram a estudar em escolas que abriam especialmente à tarde para isso.
O estudo da OCDE diz que é importante dar boas notícias aos pais e não só más notícias. Por quê?
É importante abrir os canais de comunicação com os pais desde o início do ano escolar, e assegurar que a família saiba sobre o progresso das crianças. Isso pode ser feito de forma escrita, e com reuniões, mas não necessariamente apenas quando já é muito tarde. Se queremos desencadear uma visão positiva da escola, os estudantes também precisam ver os pais engajados com a escola, fazendo visitas, dando valor ao que os filhos estão fazendo em relação à educação.
O estudo cita projetos de fortalecimento da relação família-escola na Holanda, França e Irlanda. Eles podem ser desenvolvidos no Brasil?
Na Holanda, a Plataforma de Pais de Minorias Étnicas foi criada para fazer com que pais imigrantes se engajassem na educação de seus filhos. Professores visitavam as casas dos alunos, e foram montadas salas para os pais nas escolas, que forneceram treinamento linguístico para os pais. Na Irlanda, o projeto Conexão Casa-Escola-Comunidade foi criado para evitar que os alunos abandonassem os estudos. Eles focaram em líderes comunitários, que, às vezes, eram voluntários. Não sei qual é o orçamento do Brasil para investimentos em educação, mas é preciso achar maneiras adequadas ao contexto brasileiro para unir pais e escolas.
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