segunda-feira, 11 de julho de 2011

Por ano, 70 milhões de pobres a menos

09/07/2011
Laurence Chandy & Geoffrey Gertz da Yale Global Online

Internacional
 
Objetivo de reduzir a pobreza pela metade foi atingida provavelmente há 3 anos

Temos o costume de nos queixar da natureza intratável da pobreza global e da falta de progresso para atingir as Metas de Desenvolvimento para o Milênio. O fato impressionante é que estamos no meio do período de redução mais acelerada da pobreza que o mundo já viu. A proporção da população mundial que vivia na pobreza, estimada em 25% em 2005, tem sido reduzida ao ritmo anual de 1% ou 2%, tirando dessa situação anualmente cerca de 70 milhões de pessoas - número equivalente à população da Turquia ou da Tailândia.

As estimativas oficiais da pobreza global são elaboradas pelo Banco Mundial, que acompanha a situação dos últimos 30 anos. Durante a maior parte do período, a tendência observada foi a de uma redução lenta e gradual nas estatísticas. Em 2005, ano da mais recente estimativa global da pobreza, o número de pessoas que ainda viviam abaixo da linha internacional da pobreza, definida pela renda mínima de US$ 1,25 por dia, era de 1,37 bilhão de pessoas - um recuo de 500 milhões de pessoas em relação ao início dos anos 80, mas ainda muito distante do sonho de um mundo livre da pobreza.

Numa avaliação do desempenho dos países em desenvolvimento durante a última parte do século 20, os países podem ser divididos em duas categorias: a China e o restante. A impressionante transformação da China - 30 anos atrás, apenas 16% de sua população vivia acima da linha da pobreza, mas em 2005 apenas 16% de sua população vivia abaixo dela - esconde o fracasso dos demais. Se a China for excluída, a redução de 500 milhões no número de pobres em todo o mundo torna-se um aumento de 100 milhões de pessoas. Na região mais pobre do mundo, a África Subsaariana, a proporção de pobres manteve-se praticamente estável e acima dos 50% ao longo do período, coisa que, levando-se em consideração o rápido crescimento populacional da região, traduziu-se num número de pobres quase duas vezes maior nesses países. Da mesma maneira, no Sul da Ásia, na América Latina, na Europa Central e na Ásia Central havia mais pobres em 2005 do que 25 anos atrás.

Ao combinar os dados mais recentes do consumo dos lares de cada país com os números mais recentes do crescimento no consumo privado, fizemos estimativas da pobreza mundial para os anos de 2005 aagora. A redução da pobreza acelerou no início de 2000 a um ritmo que se sustentou ao longo da década, mesmo durante os piores períodos da crise financeira. Hoje, estimamos que haja no mundo aproximadamente 820 milhões de pessoas vivendo com menos de Us$ 1,25 por dia. Isso significa que o alvo principal das Metas de Desenvolvimento para o Milênio - reduzir pela metade a pobreza mundial até 2015 em relação a seu nível de 1990 - foi provavelmente atingido três anos atrás.

Enquanto foram necessários 25 anos para reduzir em 500 milhões de pessoas o número de pobres até 2005, o mesmo feito foi provavelmente realizado nos seis anos que se passaram desde então. Nunca antes tantas pessoas foram tiradas da pobreza no decorrer de um período tão curto.

A pobreza não está apenas recuando rapidamente: está caindo em toda as regiões e na maioria dos países. Não surpreende que a redução mais acentuada tenha ocorrido na Ásia. Mas não foram apenas as economias dinâmicas do Leste Asiático, como a China, que registraram grandes feitos na redução da pobreza. Gigantes do Sul da Ásia, como Índia e Bangladesh, e economias da Ásia Central, como o Usbequistão, também avaaram muito. Aa África Subsaariana está partilhando desse progresso. A região finalmente venceu o limiar simbólico de 50% da população na pobreza em 2008 e seu número de habitantes pobres recuou pela primeira vez em sua história.

O progresso impressionante é impulsionado por um rápido crescimento econômico observado em todo o mundo em desenvolvimento. Durante os anos 80 e 90, o crescimento da renda per capita nos países em desenvolvimento teve média de apenas 1% ou 2% ao ano, muito aquém do necessário para avaar de maneira significante na redução da pobreza. Desde aproximadamente 2003, o crescimento nos países em desenvolvimento decolou, apresentando média anual de 5% de aumento na renda per capita.

Fontes de crescimento. Já se pode apontar para uma série de prováveis fontes desse crescimento emergindo ou acelerando perto da virada do século: um boom nos investimentos provocado pela alta no preço das commodities; efeitos colaterais do alto crescimento observado em grandes economias emergentes abertas que usam cadeias de suprimentos transfronteiras; a diversificação que abriu espaço para novos mercados exportadores, desde as flores cortadas aos call centers; a difusão de novas tecnologias, em particular a rápida adoção dos celulares; um maior investimento público e privado na infraestrutura; o fim de um grande número de conflitos e uma maior estabilidade política; e o abandono de estratégias de crescimento inferiores como a substituição de importações, trocada pelo foco na saúde macroeconômica e uma maior competitividade.

Esses fatores são manifestações de um conjunto de tendências mais amplas - a ascensão da globalização, a difusão do capitalismo e a melhoria na qualidade da governaa econômica - que, juntas, permitiram que o mundo em desenvolvimento começasse a convergir com a renda das economias avaadas após séculos de divergência. Os países pobres que apresentam o maior sucesso hoje são aqueles que se envolvem com a economia global, permitindo que os preços de mercado equilibrem oferta e demanda e distribuam recursos escassos, promovendo estratégias econômicas que incentivam o investimento, o comércio e a criação de empregos. É essa poderosa combinação que distingue o período atual de uma história de crescimento insípido e pobreza intratável.

A luta contra a pobreza há muito é uma meta moral e estratégica dos governos ocidentais. Mas os números dos últimos anos devem surpreender esses países avaados. Aos olhos deles, o destino dos pobres do mundo dependia principalmente do progresso em três frentes: perdão das dívidas, aumento nas ofertas de ajuda e mais liberdade no comércio.

Os líderes mundiais encontraram-se em numerosas reuniões para apoiar e conferir força a essas prioridades, mas, apesar desses esforços, os sucessos foram difíceis de se produzir. Apesar de mais de US$ 80 bilhões da dívida de países pobres já terem sido perdoados, a maioria dos países fracassou em atingir as metas globais de oferta de auxílio, e a Rodada Doha definhou na Organização Mundial do Comércio.

Felizmente para os pobres de todo o mundo, essa lógica revelou-se equivocada. Embora o progresso em cada uma das três frentes citadas pudesse ajudar os países em desenvolvimento, reforçando a capacidade deles de lutar contra a pobreza, a importância de cada uma delas foi, sem dúvida, exagerada, revelando mais a respeito dos sentimentos de responsabilidade e magnanimidade do Ocidente do que sobre aquilo que seria de fato necessário para trazer o desenvolvimento.

Pensando na longa duração histórica, a queda dramática na pobreza observada nos últimos seis anos representa o início de uma nova era.

Estamos prestes a entrar num período de desenvolvimento em massa, no qual a maioria da população mundial deixaa pobreza e chegará à classe média. As implicações de tal mudaa serão vastas, alterando tudo - desde as oportunidades econômicas globais aas pressões enfrentadas pelas instituições globais de governo em relação ao meio ambiente e aos recursos naturais. Mas se trata fundamentalmente da história de como bilhões de pessoas em todo o mundo finalmente terão a chance de construir vidas melhores para si e para seus filhos. Devemos nos considerar sortudos por sermos testemunhas de um momento tão notável quanto o atual. / Tradução de Augusto Calil

Laurence Chandy é bolsista do programa de economia e desenvolvimento global da BROOKINGS INSTITUTION; Geoffrey Gertz é analista de pesquisas a serviço do mesmo programa.

Fonte: http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/selecao-diaria-de-noticias/midias-nacionais/brasil/o-estado-de-sao-paulo/2011/07/09
( ACESSE  CRÔNICAS  DO  PROFESSOR  CLÁUDIO  SILVA  CLICANDO NOS  LINKS, AO LADO, COM IMAGENS)

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