Publicado: 02.12.12
DOHA, CATAR — Faz dez anos que o arquiteto Mohammed Rezwan criou a primeira escola flutuante em Bangladesh. De lá para cá, o barco-escola acabou se tornando fundamental numa região em que as monções interditam estradas e não permitem nem mesmo que os alunos caminhem até as salas de aula. Para se ter uma ideia do problema, em 2007, 332 escolas foram destruídas, e 4.893, danificadas. Na Índia, a Bharti Foundation ajuda “jovens e crianças a atingirem seu potencial”. E, desde 2004, na Dinamarca, o RoboBraille traduz para o braile textos em vários idiomas. Iniciativas como essas, que deram certo na área de Educação e que têm potencial para serem replicadas, foram apresentadas na quarta edição do World Innovation Summit for Education (Wise), em Doha, no Qatar.
— Nosso trabalho reduziu a evasão escolar e tem permitido que as crianças tirem o máximo de proveito de uma educação de qualidade. Nas aldeias ribeirinhas onde atuamos, graças ao acesso à educação, as taxas de casamentos precoces foram reduzidas, e ainda conseguimos fazer com que as comunidades propensas a inundações começassem a se preparar para as mudanças climáticas — conta Rewzan, fundador da ONG Shidhulai Swanirvar Sangstha, que atua em Bangladesh. — Além disso, o projeto tem ajudado a desenvolver a agricultura solar para salvaguardar o abastecimento de alimentos e garantir uma renda durante todo o ano para as famílias em áreas sujeitas a inundações. Com isso, a alimentação e a saúde das crianças melhoraram.
Lanternas para estudar à noite
Atualmente, o projeto conta com 20 barcos-escola, que alcançam 1.657 alunos. Ao todo, desde 2002, de acordo com Rewzan, a ONG já beneficiou 90 mil pessoas de centenas de aldeias.
— As crianças e as famílias não têm só mais oportunidade na área de educação, mas também conseguem melhorar a renda e têm a chance de se comunicar com o mundo exterior — diz Rezwan, lembrando que deu início ao projeto ao se dar conta de que muitas crianças do distrito de Natore abandonavam a escola. — Foi difícil para mim aceitar a situação. Então, pensei: se as crianças não podem vir à escola por falta de transporte adequado, a escola deve ir até elas. Daí, fundei a ONG.
Segundo ele, cada barco-escola tem salas que comportam 30 alunos, um laptop conectado à internet, biblioteca e recursos eletrônicos. Todos os barcos são movidos por energia solar, e passam recolhendo os alunos nas aldeias ribeirinhas. Depois da aula, as crianças são levadas de volta para casa.
— O laptop em sala de aula incentiva os alunos a aprender sobre novas tecnologias, a visitar sites educacionais e até a mexer no e-mail. Além disso, depois da aula, muitos levam lanternas, que são baterias carregadas, para casa. Isso permite que as crianças possam estudar à noite e que as mulheres das famílias possam costurar colchas para ganhar uma renda extra — conta Rewzan.
A Bharti Foundation, que leva educação às áreas rurais da Índia, também tem conseguido mudar a vida de muita gente. O Satya Bharti School Program fundou escolas do primário até o ensino secundário, que equivale ao nosso ensino médio, e foca especialmente as meninas. Nas 250 escolas espalhadas pelo país — 233 são primárias —, mais de 62 mil crianças estão matriculadas. O ensino médio já é oferecido em seis estados: Punjab, Haryana, Uttar Pradesh, Rajasthan, Tamil Nadu e Bengala Ocidental.
— Nosso objetivo é oferecer educação gratuita e de qualidade, e beneficiar até 200 mil crianças. Até agora, mais da metade das 62 mil que estão nas escolas são meninas; nós queremos desestimular a relação masculino-feminino. E mais de 70% dos estudantes pertencem a comunidades negligenciadas — conta Rakeh Bharthi Mittal, que diz buscar sempre inovações que possam ser replicadas não só nas várias escolas do projeto, mas em outras organizações.
Ter o projeto replicado foi o que aconteceu na Dinamarca. Do país em que atualmente vivem cerca de 2.400 crianças cegas, o RoboBraille foi levado para Reino Unido, Chipre, Itália, Portugal e Irlanda.
— Vimos que em muitos países é difícil crianças cegas e com outros problemas visuais terem acesso ao material educativo. Com o RoboBraille facilitando a conversão, elas têm oportunidades iguais em todos os níveis, da escola primária até a universidade — diz Tanja Stevns, uma das responsáveis.
Devido à expansão, o projeto — que é totalmente automatizado, está na internet e não exige cadastro — recebe mensalmente, segundo Tanja, mais de 30 mil solicitações de conversões:
— São pedidos vindos do mundo todo, e feitos por estudantes e professores. Sabendo da demanda, estamos sempre procurando maneiras de expandir e desenvolver novas funcionalidades ou adicionar mais idiomas. Entendemos que a educação não é só a melhor maneira para sair da pobreza, mas crucial para o desenvolvimento do indivíduo.
Também usando a internet, o PSU Educarchile — portal que funciona com o apoio da Fundação Chile e do governo —, criado em 1996, é um sistema interativo on-line gratuito que prepara os alunos para fazer o teste de admissão obrigatório para quem quer entrar na universidade.
— Nos últimos anos, além da barreira geográfica e da desigualdade socioeconômica, o Chile teve que enfrentar o terremoto de 2010. Mas, no meu país, o teste de admissão é fundamental para ingressar numa universidade, e é preciso ter uma pontuação alta. Então, criamos o PSU para ajudar os que estavam em desvantagem, devido à desigualdade social, e também os que enfrentam limitações geográficas. Ano passado, 156 alunos nossos estiveram no ranking nacional dos que conquistaram as melhores notas. Mas, desde que começamos, já alcançamos mais de 1,2 milhão de estudantes — conta Ana Maria Raad Briz, uma das coordenadoras do programa.
Segundo ela, mesmo o programa sendo muito específico para o exame de admissão, outros países, especialmente da América Latina, podem se beneficiar:
— Esse modelo que permite acesso fácil e traz estratégias de estudo para alunos e professores pode ser replicado. Ainda que os currículos sejam diferentes de um país para outro, o modelo pode ser o mesmo, e, em qualquer lugar, levar em conta a realidade de quem vai acessá-lo.
No mesmo ano em que o Chile pôs em prática o PSU, a fundação Cristo Rey Jesuit, dos Estados Unidos, inaugurou a primeira escola que, além de preparar para a universidade, faz com que o aluno trabalhe uma vez por semana. Para executar serviços de escritório, eles são recebidos em empresas como Morgan Stanley, Credit Suisse e JP Morgan Chase. De lá para cá, outras 24 escolas abriram as portas.
— Começamos focando nos filhos dos imigrantes mexicanos e, ainda hoje, as escolas são apenas para pessoas de baixa renda. Sabemos que, nos EUA, sem educação universitária a pessoa é quase condenada a uma vida de pobreza — explica o padre Joseph Parkes. — Nossos universitários são os primeiros de suas famílias a ir para a universidade. Um deles, que estudou na escola de Nova York, foi contratado pela JP Morgan Chase ao se formar na faculdade. Ele tinha trabalhado lá enquanto estava conosco, e seu salário inicial foi três vezes o que seu pai fez em seu melhor ano.
De acordo com Parkes, ao todo, 5.454 alunos que passaram pela fundação se formaram em universidades americanas. Nas 25 escolas, em 2012, estão matriculados 7.491 estudantes:
— Recebemos financiamento da Fundação Walton para nos expandir. Fizemos vários estudos de viabilidade e esperamos abrir dez novas escolas nos próximos 12 anos. Para nós, é fundamental criar programas que levem mais jovens à faculdade, para quebrar o ciclo de pobreza em famílias de baixa renda.
*A repórter viajou a convite da organização do Wise, iniciativa da Fundação Qatar
Leia as crônicas do Prof. Cláudio Silva em :
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