Adauri Antunes Barbosa (adauri@sp.oglobo.com.br)
Carolina Benevides (carolina.benevides@oglobo.com.br)
GLOBO.com , 24.10.2011
RIO e SÃO PAULO - Aos 17 anos, Pedro Medeiros, aluno do 9 ano
do ensino fundamental, acaba de conquistar a medalha de ouro na
olimpíada brasileira de matemática. Mas, antes de fazer 123,5 pontos dos
150 que a prova Canguru Matemático sem Fronteiras permite, Pedro foi
reprovado duas vezes. Aluno do Colégio Cruzeiro - que este ano, ocupou a
7 posição no ranking nacional do Enem e a 2 no ranking do estado do
Rio -, ele repetiu o 6 e o 8 anos. No Brasil, segundo dados do
Ministério da Educação (MEC), 10,3% dos alunos do ensino fundamental
foram reprovados em 2010. No ensino médio, o índice foi de 12,5%.
POLÍTICA:Pronatec é a maior reforma da educação profissional já feita no Brasil, diz Dilma
- Jamais gostei de estudar. Em 2006, no 6 ano, eu ia mal,
não entendia nada de matemática, meu pai morreu, e aí fui reprovado. No 8
ano, eu continuava sem entender nada de matemática. Repeti e conheci o
professor Jorge (Gomes Santos), que me fez aprender e gostar da
disciplina - diz Pedro, afirmando que as reprovações se tornaram um
ponto positivo de sua vida. - No começo, foi ruim; eu chorei dois dias
seguidos, depois, não aceitava a turma. Quando repeti o 8 ano, passei
uns dias achando que era pegadinha! Mas amadureci, vi que tinha que me
esforçar.
Jorge Gomes Santos, professor de matemática do 8 ano, concorda:
- Muitas vezes a reprovação vira crescimento. E os pais precisam entender que às vezes ela é necessária.
Assunto polêmico, a reprovação divide educadores. Para uns, "uma
educação de verdade nem cogita reprovar". Outros acreditam que a medida é
necessária em alguns casos. Autônomos, os colégios particulares de
ponta - aqueles que ocupam as melhores colocações no Enem - lidam com o
tema de acordo com seus projetos pedagógicos. Há os que sugiram que o
aluno se retire, os que só permitem que a matrícula seja feita se houver
vaga sobrando, os que aceitam que o estudante fique reprovado uma vez
ao longo da trajetória acadêmica, e ainda os que trabalham com
dependência, quando o aluno passa para a série seguinte e tem que fazer
uma ou duas disciplinas da série anterior.
Nas escolas públicas, por sua vez, cada município e cada estado
decidem o método que vão seguir. E o Conselho Nacional de Educação (CNE)
recomenda que, em todas as escolas do país, nenhum aluno dos três
primeiros anos do ensino fundamental seja reprovado.
- O Brasil tem um índice alto de reprovação e isso é um fracasso,
porque a reprovação é ruim em todos os momentos. O aluno que repete,
por exemplo, por conta de uma disciplina, fica desestimulado, acha o
ensino tedioso, torna-se aborrecido. Além de passar por um descompasso
na relação social, por conta da defasagem idade-série, o que impacta na
aprendizagem - diz Maria Pilar Lacerda, secretária de Educação Básica do
MEC.
"Reprovar no ensino fundamental não tem sentido"
Professor
da Faculdade de Educação da USP, Vitor Henrique Paro diz que "na nossa
cultura, por desconhecimento, por ignorância, a reprovação se tornou
parte da educação":
- O senso comum acredita que, se não tiver reprovação, o aluno
não estuda. Parte do pressuposto que fazer estudar é reprovar. Então, a
criança não vai à escola para aprender, mas para passar de ano. Para
mim, reprovar no ensino fundamental não tem o menor sentido.
Não é no que acreditam Isabel Rodrigues Monteiro, coordenadora de
segmento do 6 ao 9 ano, e Denize Peterson, orientadora educacional, do
Cruzeiro.
- Acompanhamos aluno por aluno. Conversamos com os que têm
dificuldade, sabemos se passam por um momento difícil, chamamos a
família, orientamos, oferecemos aulas extras. Mas nem sempre é possível
resgatar o aluno e evitar a reprovação. Então, quando acontece, tomamos
cuidado para que ele não se sinta menosprezado, buscamos mostrar no que
ele se destacou e o acolhemos na volta às aulas. Por conta disso, a
gente diz que, para ser positiva ou negativa, a reprovação depende de
como é tratada pela escola - diz Isabel, lembrando que os alunos do
Cruzeiro são jubilados se repetirem duas vezes a mesma série.
Uma das dez primeiras escolas no ranking nacional do Enem, o
Vértice só permite que o aluno seja reprovado uma vez. Quem repete duas
vezes não pode renovar a matrícula.
- Ninguém fica feliz quando é reprovado. Mas aí uma tia chama
para contar que repetiu, mais gente da família vem conversar. Aí, a
gente vê que repetir não é o fim do mundo, e consegue se recuperar -
diz Bruna Akinaga Moreira, de 16 anos, aluna do Vértice, reprovada no
ano passado, no 1 ano do ensino médio.
- Se a retenção puder ser evitada, é melhor. Mas às vezes é
inevitável. Quando percebemos o rendimento baixo, conversamos com a
família. Se ela acha que a reprovação vai diminuir a estima do aluno, a
gente sugere que ele seja transferido para outra instituição. Outras
vezes, sugerimos a mudança porque o aluno não tem perfil para continuar
na escola - diz Adilson Garcia, um dos diretores.
No Colégio Santo Inácio, do Rio, basta repetir uma vez para não
ter a vaga garantida no ano seguinte. Por meio da assessoria de
imprensa, a escola explica que o conselho de professores decide quem
permanecerá. São analisados, além das notas, se o aluno passou por algum
problema e se está integrado ao perfil da escola. No Santo Agostinho,
também do Rio, e 3 lugar no ranking estadual do Enem, quem repete também
não tem a vaga garantida. Mas, neste caso, só fica na escola se todos
os reprovados daquela série tiverem vaga no próximo ano. A reportagem
procurou o São Bento, 1 lugar no ranking nacional do Enem, mas a
coordenadora estava viajando.
Também no Rio, o Colégio Zaccaria não reprova, a partir do 6 do
ensino fundamental, se o aluno só não tiver conseguido média em uma
disciplina. A dependência permite que ele avance e curse, ao mesmo
tempo, a matéria do ano anterior.
- A gente luta para não reprovar, conversa com as famílias,
oferece aula extra. Mas, muitas vezes, os adolescentes não estudam
porque não querem, e nesse caso a reprovação é válida - diz Angela
Maria dos Santos, da coordenação geral do Zaccaria.
Para Helena Sandes, coordenadora do Mopi Tijuca, o fundamental é que as escolas analisem caso a caso, com atenção:
- A reprovação não se dá no último bimestre, e é necessário que a
escola trabalhe a relação de causa e efeito. Então, quando o aluno se
mostra desinteressado, não estuda e conta com a sorte, a reprovação é
necessária. Por outro lado, se o estudante está com algum problema de
saúde, se houve uma morte na família e o rendimento cai, a reprovação
não é indicada. É preciso ter critério
FONTE: http://oglobo.globo.com/educacao/mat/2011/10/24/escolas-decidem-qual-limite-da-repetencia-educadores-se-dividem-sobre-beneficios-925640343.asp
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TER OCORRIDO COM O SEU FILHO!"- a tragédia de S. Caetano e outras
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