Publicado em 19/12/2011 | Angélica Favretto, especial para a Gazeta do Povo
Antonio More / Gazeta do Povo
O diretor Sérgio Gomes, do Colégio Estadual Arlindo Carvalho de Amorim: normalidade em 2012
Excesso de alunos leva escolas a criarem turmas intermediárias,
reduzindo tempo de permanência de crianças e adolescentes na sala de
aula
Escolas públicas do Paraná sem estrutura suficiente para atender a
demanda de alunos são obrigadas a criar o quarto e até o quinto turno
diário. A Secretaria de Estado da Educação não informa o número colégios
que enfrentam esse problema, mas não é difícil encontrar casos em
Curitiba, na região metropolitana e no interior do estado.
O
principal reflexo da prática é a redução da jornada escolar, que deveria
ser de no mínimo quatro horas, mas que nessas escolas chega a ser de
pouco mais de três horas ao dia A complementação é feita em alguns
sábados letivos e por meio de trabalhos extras.
Horas a mais
O Brasil é o país com uma das menores cargas horárias escolares do mundo - 4 horas aula em 200 dias letivos. Acompanhe como funciona a distribuição de horas em outros países:Estados Unidos
- Dias letivos ao ano: 180 em média
- Jornada diária: entre 6 e 7 horas.
- Grande ênfase na prática de esportes. Ao entrar no High School, os alunos que participam de alguma equipe esportiva podem conseguir uma bolsa de estudos na faculdade.
Inglaterra
- Dias letivos ao ano: 190
- Jornada diária: 6 horas
- A escolaridade obrigatória é de 11 anos e se divide em primário (5 a 11 anos) e secundário (11 a 16 anos)
Chile
- Dias letivos ao ano: 200 (entre março e dezembro)
- Jornada diária: 6 horas
- A educação de segundo grau é de quatro anos e se subdivide em: científico-humanista e técnico-profissional.
Austrália
- Dias letivos ao ano: 200
- Jornada diária: 6h30
- O ciclo básico dura 12 anos.
França
- Dias letivos ao ano: variável, entre 144 e 180
- Jornada diária: 8 horas
- A semana letiva vai de segunda a sábado, com folga ou meio período nas quartas e sábados
China
- Dias letivos ao ano: variável, entre o começo de setembro até a metade de julho
- Jornada diária: 9 horas e meia.
- Currículo com grande ênfase em línguas e matemática. Há um computador para cada dois alunos
Irã
- Dias letivos ao ano: 200, em média
- Jornada diária: variável
- Meninos e meninas estudam separados, com professores do mesmo gênero. Ensino religioso é obrigatório
Japão
- Dias letivos ao ano: 11 meses, com dois recessos
- Jornada diária: de 5h30 a 7 horas, conforme a série
- Além das disciplinas acadêmicas, há aulas de Educação Moral, Saúde e Segurança; Disciplina; Cortesia e Boas Maneiras
A Lei de Diretrizes e Bases para a Educação fixa a oferta
mínima de 800 horas/aula anuais pelas escolas, distribuídos em 200 dias
letivos efetivos, sem contar os exames finais. Isso quer dizer que cada
criança precisa permanecer ao menos quatro horas por dia em sala, para
que tenha um nível de aprendizado aceitável.
Em maio passado, a Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado
aprovou o projeto de lei 388/07, que altera a carga horária mínima de
800 para 960 horas/ aula. A proposta continua tramitando na casa.
Provisório, permanente
Segundo a Secretaria de Educação, a medida é adotada para atender
questões emergenciais. Mas há situações em que o quadro é mantido por
quase uma década. É o caso do Colégio Estadual Arlindo Carvalho de
Amorim, na Vila Barigui, CIC. A inclusão do turno intermediário veio
quando a escola precisou passar por reformas estruturais, há oito anos.
Com isso, todos os 1,3 mil alunos da instituição tiveram de se adaptar
aos novos horários: das 7 horas às 10h45; 11 horas às 14h45; 15 às 18
horas e das 19 horas às 22h30.
O diretor Sérgio Gomes conta que nos primeiros meses da mudança de
horário, a dificuldade principal era com os professores que não podiam
pegar aulas em outros colégios por trabalharem em turnos irregulares.
Com o tempo, a comunidade escolar se acostumou.
A boa notícia, segundo o diretor, é que no próximo ano a escola deve
voltar aos três turnos originais. As obras, por problemas nas
licitações, atrasaram, mas devem ser concluídas antes do início do
próximo ano letivo. De acordo com a secretaria, até o final da atual
gestão de governo deve ocorrer a extinção dos turnos extras.
O Colégio Estadual Aníbal Khury, no Uberaba, não terá a mesma sorte,
já que os quatro turnos vão continuar na instituição em 2012. A inclusão
dos horários intermediários foi necessária para atender a demanda,
impedindo salas cheias. O colégio atende 1,5 mil crianças e
adolescentes. Ivone Vilela Hara, secretária da escola, conta que desde
2009 a instituição trabalha dessa forma e que adequar os horários de
toda a equipe ainda é um ponto complicado. “As zeladoras precisam limpar
as salas rapidamente para que a outra turma entre. Nós da equipe
administrativa e pedagógica temos que estar atentos ao fluxo intenso de
crianças durante o dia todo.”
Proveitoso
Há quem veja vantagens nos turnos intermediários. Em Londrina, a
Escola Estadual Professora Lúcia Barros Lisboa não trabalha com os
quatro turnos, mas com cinco. A direção considera que dessa forma o
trabalho tem sido mais proveitoso. “Uma nova medida da secretaria diz
que nós vamos ter de oferecer só quatro turnos aqui. Tanto nós da
direção quanto a comunidade ficamos descontentes. Pela demanda local,
cinco turnos funcionam muito bem”, conta Ednaldo Facio, diretor auxiliar
da Escola Estadual Professora Lúcia Barros Lisboa, que atende
aproximadamente 2 mil alunos.
Facio diz que com o rápido crescimento do bairro, há quatro anos,
houve a necessidade de incluir os turnos intermediários. No início os
pais foram contra, mas pela falta de alternativa na região, aceitaram e
se acostumaram.
Horários espremidos são forma de exclusão no sistema de ensino
Para especialistas, os turnos intermediários representam um
retrocesso na educação básica do país, que já é deficitária. O ideal
seria o período integral, o que ainda é inviável por questões
econômicas, como pondera o professor Fábio Scatolin, do Núcleo de
Desenvolvimento e Políticas Públicas da Universidade Federal do Paraná.
“Em países mais desenvolvidos, a taxa demográfica é menor. Nossa
realidade é oposta e a educação já é de baixa qualidade. Reduzindo a
carga horária estamos voltando no caminho.”
Para Scatolin, o projeto de lei 388/07, aprovado pelo Senado, é uma
amostra clara de que a melhoria na educação do país passa pelo aumento
da carga horária escolar. “Isso não quer dizer que as crianças tenham de
passar o dia em função da grade curricular básica. No contraturno,
podem ter aulas de xadrez, por exemplo, o que estimula o raciocínio.”
A pedagoga Regina Cely Hagemeyer, do Setor de Educação da UFPR,
lembra que a redução da carga horária escolar, por causa dos turnos
extras, leva a um maior desgaste de professores e alunos, pois precisam
seguir uma rotina pedagógica e social diferente dos outros.
“Potencializar ou otimizar os espaços escolares, e o tempo de ensino,
quando não há escolas ou salas suficientes para essas demandas, tem
levado a equívocos no que se refere aos processos de aquisição de
conhecimento e formação dos alunos na escola.”
A pesquisadora alerta para o fato de que os alunos de escolas com
mais de três turnos estão, de certa forma, em um processo de exclusão.
Elas perdem no aprendizado, o que contraria o processo de democratização
do ensino.
Insuficiente
A simples ampliação da jornada escolar, contudo, pode não ser o
suficiente para garantir qualidade de ensino. Segundo Ângelo Ricardo de
Souza, membro do Núcleo de Pesquisa em Políticas Educacionais da
Universidade Federal do Paraná (UFPR), o aumento só apresentará
resultados positivos ser vier acompanhado de uma melhoria no projeto
formativo desses alunos. “Já houve a experiência de simplesmente dobrar a
jornada de Matemática e Português nas escolas. Não basta. É preciso
inserir mais cultura, arte, ciência, vivência corporal. Construir o
caráter do ser humano”, afirma.
Para Souza, infelizmente a sociedade está acostumada a somente deixar
os alunos em sala como medida de segurança e tanto faz se estão
aprendendo ou não. “O que interessa é passar de ano, independente de
como isso acontecerá”, lamenta
FONTE: http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=1204717&tit=As-turmas-do-quarto-e-do-quinto-turno-escolar
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Um comentário:
Infelizmente é a mais pura verdade o que o "SOUZA"falou assino embaixo,as pessoas não estão preocupadas se os aluno apredem ou não se for aprovado é o que importa;não importando os critérios usados para passar o aluno.Eu esperava mais da educação no BRASIL!
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