Parceria entre ONGs e a prefeitura do Rio mostra a importância de manter os estudos
Atualizado:
RIO - “Você tem só 16 anos, um filho, e parou no 8 ano do ensino
fundamental. Mas ainda está em tempo de voltar para a escola. Terminando
seus estudos, poderá se estabilizar e oferecer um exemplo de vida
melhor para o seu filho". Os conselhos, dados por uma jovem aluna de um
colégio municipal da Zona Norte do Rio, fazem parte de uma carta escrita
para uma amiga durante uma etapa do projeto "As vantagens de permanecer
na escola". A parceria entre a prefeitura do Rio e as ONGs Junior
Achievement e Centro Integrado de Estudo e Desenvolvimento Sustentado
(Cieds) tem sido uma forte aliada na luta contra a evasão em áreas
violentas da cidade.
— O grande objetivo do projeto é fazer, de
forma lúdica, com que os estudantes entendam que existe uma relação
direta entre educação, capacitação e desenvolvimento profissional, que,
por sua vez, está ligada diretamente ao nível de renda. A ideia é
mostrar que existe relação entre escola e a vida que eles estão sonhando
— comenta a diretora-executiva da Junior Achievement, Laura Mariani.
O
programa foi aplicado este ano em 21 unidades da rede municipal do Rio,
integrantes do projeto "Escolas do amanhã", que leva uma série de
iniciativas de reforço pedagógico a colégios localizados em regiões
violentas. Foram atendidos 1.180 alunos do 8 e do 9 anos do ensino
fundamental, e a perspectiva é dobrar a quantidade no ano que vem.
De
acordo com a Secretaria Municipal de Educação, a taxa de evasão escolar
fechou 2010 em 3,26% nas 151 unidades consideradas "Escolas do amanhã".
Em 2008, o índice era de 5,1%.
Alunos projetam rendimentos
No
"As vantagens de permanecer na escola", duplas de voluntários,
capacitados pela Junior Achievement, passam cerca de quatro horas em
sala de aula para cumprir as cinco etapas previstas no programa. No
primeiro módulo, os orientadores contam suas experiências profissionais
para falar sobre êxito. O segundo é o que mais chama a atenção dos
estudantes: o jogo das Grandes Decisões. Em cada casa do tabuleiro, os
participantes têm de escolher se tomam o caminho da sala de aula ou
preferem deixá-lo em segundo plano. Quanto mais estudos, mais evolução.
—
Passei para o 1 ano do ensino médio. Ainda falta tempo para o
vestibular, mas participar dos jogos do programa me fez entender que
podemos realizar nossos sonhos. O importante é nunca desistir e seguir
em frente. As atividades fizeram com que eu pensasse no futuro — afirma
Elaine Araújo de Lacerda, 15 anos, aluna do 9 ano do ensino fundamental
do Colégio Municipal Bernardo de Vasconcelos, na Vila Cruzeiro, que
nasceu na comunidade e pode ser a primeira pessoa da família a ingressar
numa faculdade.
Na terceira etapa do programa, os alunos
montam uma projeção de orçamento baseada na renda que teriam se
deixassem a escola com o ensino fundamental incompleto. E comparam os
prováveis rendimentos se continuarem estudando. O quarto módulo é
voltado para um modelo de planejamento profissional da carreira que o
estudante sonha seguir. Por fim, há um debate, e os participantes
escrevem uma carta para um amigo que tenha deixado os estudos, pedindo
para ele repensar sua decisão.
A secretária municipal de
Educação do Rio, Claudia Costin, ressalta que o projeto se encaixa numa
filosofia que começou nas "Escolas do amanhã" e agora já está sendo
desenvolvida amplamente em todas as unidades, do 6 ao 9 anos do ensino
fundamental: a pedagogia do sonho.
— É natural que cedo as
crianças e os jovens pensem em ter profissões, como jogador de futebol,
cantora ou atriz. Mas mostramos que mesmo para realizar esse sonho é
preciso estudar, se informar, pesquisar sobre o que está associado a
ele. A partir do 6 ano, temos um exercício chamado "Sonho por degraus",
em que ensinamos o aluno a pesquisar sobre a profissão e mostramos a
funcionalidade da escola para isso — diz Costin, acrescentando que este
ano, pela primeira vez, estudantes da rede fizeram um juramento de
concluir o ensino médio e buscar a universidade durante as cerimônias de
formatura do ensino fundamental.
O "As vantagens de permanecer na
escola" foi realizado em parceria com o Cieds porque a instituição já
vinha realizando, em unidades em áreas de risco, o projeto "Bairro
educador", que leva uma série de iniciativas de integração com a
comunidade para os colégios.
Os projetos que estão sendo levados
para os colégios em regiões violentas têm dado resultado: nas provas
bimestrais feitas pela prefeitura do Rio, o rendimento já se aproxima do
resto da rede. No 9 ano, na avaliação do terceiro bimestre deste ano,
por exemplo, a média geral foi de 4,6 na rede. Nas "Escolas do amanhã",
foi de 4,4.
A ONG Junior Achievement ainda está aberta a
voluntários que queiram participar do projeto contra a evasão. As
informações sobre inscrições podem ser obtidas no site www.jarj.org.br.
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