terça-feira, 6 de setembro de 2011

Gravidez precoce cai no país, mas mortalidade infantil segue alta (GAZETA DO POVO)

 Uma em cada cinco crianças que morrem antes de completar o primeiro ano de vida é filha de mãe adolescente

De cada cinco crianças que morrem no Brasil antes de completar um ano de idade, uma é filha de mãe adolescente. A estatística, que atinge principalmente jovens mais pobres e de baixa escolaridade, é uma das constatações de um estudo lançado ontem pela ONG Visão Mundial, como parte da campanha Saúde para as Crianças Primeiro. A pesquisa, que foca a estrutura de atendimento à saúde materno-infantil, revela também que, apesar da alta taxa de mortalidade, o número de mães adolescentes (entre 10 e 19 anos) em relação ao total de gestações diminuiu na última década, de 23,4% para 19,9% e que houve redução da mortalidade geral de crianças.
João Frederico/Divulgação / Thais, Ester, Welita, Ana Luzia, Stephanye, Karoline, Ana Viana, Amanda e Mayara participam do projeto Sesi Amiga
João Frederico/Divulgação
 
Thais, Ester, Welita, Ana Luzia, Stephanye, Karoline, Ana Viana, Amanda e Mayara participam do projeto Sesi Amiga
Educação sexual
Palestra com jovens para quebrar barreiras
A preocupação com a gravidez precoce e a falta de informações adequadas sobre o assunto levou o Colégio Sesi a implantar o projeto Sesi Amiga, em parceria com o Movimento Nós Podemos Paraná. Há três anos, meninas do primeiro, segundo e terceiro anos do ensino médio do Colégio Sesi do CIC, em Curitiba, recebem capacitação e dão palestras para outras estudantes em escolas de todo o estado.
Durante as palestras, as meninas ficam a sós com as adolescentes e conversam sobre educação sexual, saúde reprodutiva e valorização da mulher. Uma pedagoga fica de prontidão para tirar dúvidas, mas do lado de fora da sala. A “estratégia” foi adotada para que as estudantes visitadas se sentissem mais à vontade para falar sobre o assunto.
Atualmente, 50 alunas do Colégio Sesi fazem parte do projeto. As palestras duram cerca de uma hora e são agendadas conforme pedido das outras escolas, normalmente, estaduais.
“Nosso foco é fazer com que as adolescentes conheçam o próprio corpo e saibam que, para tudo, tem uma hora certa”, afirma a coordenadora do Sesi Amiga, Camila Ferreira.
Para as integrantes do projeto, o fato de as informações serem repassadas por jovens da mesma idade, que vivem situações e dilemas semelhantes, facilita – e muito – a aproximação com as outras adolescentes. “Isso faz toda a diferença. Muitas meninas têm vergonha de perguntar certas coisas para as mães ou professoras, e se sentem à vontade para perguntar”, relata a estudante Welita Lima, de 16 anos.
As próprias alunas reforçam que a intenção não é ensinar sexo seguro para as jovens, mas sim fazer com que elas conheçam as consequências de seus atos. “Tentamos, acima de tudo, mostrar para as outras meninas que elas devem ter amor próprio”, diz Mayara Franco, 16 anos, aluna do segundo ano do Sesi. (RW)
Números
A taxa de mortalidade infantil é um dos indicadores mais importantes das condições ambientais e socioecômicas das populações. Veja o que representa os números do estudo:
Cálculo
A taxa indica o risco de morte infantil, verificando a frequência de óbitos de crianças menores de 1 ano de idade a cada mil nascidos vivos.
OMS
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica a taxa em altas (50 ou mais), médias (20 a 49) e baixas (menores que 20). Altas taxas de mortalidade infantil estão relacionadas a baixos níveis de condições de vida, sobretudo de saúde.
Referência
O Brasil diminuiu expressivamente sua taxa de mortalidade infantil nos últimos 20 anos, chegando a 23,3 em 2008 – no entanto, ela ainda está acima do recomendável pela OMS. O índice brasileiro, inclusive, é maior do que em outros países da América do Sul, como Colômbia (17,4), Argentina (11,4), Uruguai (11,3) e Chile (7,7). Nos países desenvolvidos, a taxa geralmente é inferior a 10, chegando a 5 no Canadá, 2,8 no Japão e 3,3 na França.
Relação
A taxa de mortalidade infantil está intimamente ligada ao rendimento familiar, ao nível de fecundidade, à escolaridade das mães, à nutrição e ao saneamento ambiental. Seu estudo contribui para a avaliação da disponibilidade e do acesso aos serviços e recursos relacionados à saúde, como a atenção ao pré-natal e ao parto e à cobertura vacinal contra doenças infecciosas infantis.

Mesmo com a diminuição pela metade nos últimos 20 anos da taxa de mortalidade infantil no Brasil – que mede o número de mortes de crianças a cada mil nascidas vivas –, o índice ainda está acima do recomendável pela Organização Mundial da Saúde (OMS) – abaixo de 20%. A taxa passou de 33,2 em 1998 para 23,3 em 2008. As desigualdades regionais, porém, são gritantes. En­­quanto na Região Sul o mesmo número fica em 15,6, no Nordeste chega a 34,4. O Nordeste é, inclusive, a região que tem a maior porcentagem de gestantes adolescentes: 26,97% das mães têm até 19 anos.

Segundo dados compilados pelo estudo, em 2009, das 42.684 crianças menores de um ano que morreram no Brasil, 7.917 eram filhas de gestantes entre 15 e 19 anos e 627 filhas de adolescentes com menos de 14 anos, 20% das mortes totais. A coordenadora técnica da campanha da Visão Mundial, Neilza Costa, afirma que “há um verdadeiro descuido na atenção dessas gestantes”. Para ela, crianças e adolescentes são indivíduos em situação peculiar de desenvolvimento, que necessitam de políticas pú­­blicas que atendam essas particularidades.

“Viver uma gravidez em pleno desenvolvimento é complexo, principalmente quando em cama­­das empobrecidas, sem acesso a condições dignas de sobrevivência e desenvolvimento”, diz Neilza.

Riscos

Segundo o estudo, a gravidez entre adolescentes é maior em famílias com renda per capita mais baixa, entre as jovens que não têm trabalho remunerado e baixa escolaridade. Fatores que, com a gestação, acabam sendo potencializados. Não bastassem os riscos sociais, a gravidez precoce também pode causar problemas de saúde tanto para a gestante quanto para o bebê. Segundo o ginecologista e professor de obstetrícia da Uni­versidade Federal do Paraná (UFPR) e Pontifícia Univer­­sidade Católica do Paraná (PUCPR) Sheldon Rodrigo Botogoski, mães adolescentes correm mais risco de terem bebês prematuros e de baixo peso, além de poderem sofrer anemia, pressão alta e infecções urinárias.

Prevenção

O ginecologista reforça que tão importante quanto garantir um atendimento adequado durante a gestação e no pós-parto é orientar a adolescente para que ela evite a gravidez. A necessidade de uma prevenção eficaz também é reforçada pelo articulador do Movi­mento Nós Podemos Paraná, João Frederico de Souza. Por meio de parceria com o Sesi, o movimento capacita educadores e jovens para trabalharem o tema em escolas.

Paraná não deve alcançar meta das Nações Unidas

A redução da taxa de mortalidade infantil é um dos oito Objeti­­vos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) que não deve ser atingido integralmente no Paraná e no Brasil até 2015 – ano limite para o cumprimento das metas, estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) com 191 nações. Segundo o último relatório divulgado em julho pelo Observatório de Indi­­cadores de Sustenta­­bilidade (Orbis), 49 municípios paranaenses dificilmente alcançarão nos próximos quatro anos o objetivo de reduzir em três quar­­tos o índice de mortalidade infantil.
Em todo o país, a redução em dois terços da mortalidade ma­­terna não deve ser alcançada. No período entre 1996 e 2009, em apenas sete estados do Bra­­sil houve, de fato, alguma redução. 

FONTE:http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=1166310&tit=Gravidez-precoce-cai-no-pais-mas-mortalidade-infantil-segue-alta-

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