sábado, 25 de junho de 2011

Quer filhos inteligentes?


O peso dos relacionamentos
                                           * Por Cláudio Silva
Iniciamos a reflexão com um depoimento do educador Paulo Freire, no livro Pedagogia da Autonomia:

 “Estava sendo então, um adolescente inseguro, vendo-me como um corpo anguloso e feio, percebendo-me menos capaz do que o fortemente incerto de minhas possibilidades. Era muito mais mal-humorado que apaziguado com a vida. Facilmente me eriçava. Qualquer consideração feita por um colega rico da classe já me parecia o chamamento à atenção de minhas fragilidades, de minha insegurança. O professor trouxera de casa os nossos trabalhos escolares e, chamando-nos um a um, devolvia-os com o seu ajuizamento. Em certo momento me chama e, olhando ou re-olhando o meu texto, sem dizer palavra, balança a cabeça numa demonstração de respeito e de consideração. O gesto do professor valeu mais do que a própria nota dez que atribuiu à minha redação. O gesto do professor me trazia uma confiança ainda obviamente desconfiada de que era possível trabalhar e produzir. [...] A melhor prova da importância daquele gesto é que dele falo agora como se tivesse sido testemunhado hoje. “E faz, na verdade, muito tempo que ele ocorreu...” (1996 pp. 42-3).

Em tempos de bullying e grande violência social, tenho reforçado a recomendação de que se dê atenção especial à qualidade dos relacionamentos nos ambientes educacionais. Por refletir no desenvolvimento global da pessoa. Somos seres de relações. Na escola, deve-se ter um cuidado especial à qualidade do “clima organizacional”, o que inclui os relacionamentos entre professores, funcionários, pais, e, principalmente, os educandos. O mesmo princípio deve ser observado nas relações familiares.

MORIN, afirma que “o desenvolvimento da inteligência é inseparável do mundo da afetividade”, por despertar para a paixão e a curiosidade pelo conhecimento. O educador, embora competente e dedicado, pode comprometer os resultados do processo de ensino e aprendizagem se descuidar desse aspecto essencial.

A afetividade, tanto pode fortalecer o conhecimento, como asfixiá-lo. Há, portanto, estreita interdependência entre as variáveis razão e afetividade, com repercussão direta nos resultados. Nos espaços educacionais onde há sintonia entre a qualidade do trabalho pedagógico e das relações humanas os resultados são perceptíveis. “Há estreita relação entre inteligência e afetividade: a faculdade de raciocinar pode ser diminuída, ou mesmo destruída, pelo déficit de emoção; [...]”. Já Rousseau alertava em sua pedagogia do Emílio, para os perigos de uma educação distorcida pelos excessos praticados por preceptores opressivos ou mesmo cruéis, assim como pela liberalidade excessiva.

Procure recordar-se de professores marcantes em sua vida.  Normalmente nosso cérebro acessa mais rapidamente os que nos impactaram afetivamente de forma positiva ou negativa. Lembro-me que, certa vez, durante uma aula lia o meu caderno de poesias e contos às escondidas. Naquela época, o garoto que se interessasse por literatura ou poesia, tinha a sua masculinidade questionada pelos colegas. Não percebi, tão concentrado que estava, que a professora, por trás, viu o que eu estava fazendo e deve ter lido algo do meu “caderninho secreto”. Com a sensibilidade dos  grandes  educadores, discretamente, talvez para se assegurar de que os demais não percebessem, pediu-me se me importaria de que o levasse consigo para ler mais  tarde. Meio sem graça concordei. Dias depois, ela sutilmente, sem proferir palavras, devolvia o caderno sobre minha carteira. Junto, uma página do principal jornal da cidade com a publicação de um dos meus poemas. Pode imaginar o impacto desse pequeno gesto em minha vida. Minha reverência eterna à educadora, poetisa e escritora, Prof.ª Maria Granzoto da Silva.
 “O homem da racionalidade é também o da afetividade [...]”.
Pense nisso!


Se achou esta crônica interessante compartilhe recomendando a amigos, e poste o seu comentário abaixo. A sua referência é muito importante para nós - Os  editores.


*Cláudio Silva é mestre em Educação, ex- presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação-UNDIME/PR, foi Secretário de Educação de Apucarana-PR (gestões  2005-2008 e  2009-2012 ) e  Secretário  de  Ensino  Superior ( 2012)

Ficha Técnica:
Estrutura: Jornalista Cláudia Alenkire Gonçalves da Silva 
Revisão: Prof.ª Doutora Leila Cleuri Pryjma

Link’s recomendados:


CONHEÇA O NOSSO INSTITUTO EDUCACIONAL:
                     ( Matrículas Abertas !)


Bibliografia:
FREIRE, Paulo.  Pedagogia da Autonomia. 31º. Ed. Paulo: Paz e Terra, 2005.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro 5º. Ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2002, p.16.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emílio ou da Educação. 2º. Ed. revista. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1973.


7 comentários:

Prof. Cláudio Silva disse...

LEILA COMENTOU

Professor, pense na honra que sinto quando o senhor me envia seus textos... agora pense no que senti quando vi meu nome no rodapé... teve ter sido algo muito semelhante ao que a mestre Maria Granzotto fez com o senhor... PARABÉNS! Bom domingo... quando assistir à palestra feita com o filme "Como estrelas na Terra", conte-me... um forte abraço de todos nós, Leila, Val e Gabriel.

Cláudia Yaísa disse...

Parabéns por mais esse texto! Ele revela a importância da valorização da pessoa enquanto ser humano das relações, ou seja, aquele que se define e se transforma na relação com o outro. Sua professora conseguiu fazer isso com você ao possibilitar que seus interesses pela poesia, fossem estimulados ainda na infância. Um grande beijo pai...e continue escrevendo suas crônicas...Yaísa

Prof. Cláudio Silva disse...

Filha querida, com palavras de incentivos como as suas e de tantos amigos de "ouro" que a vida me presenteou é impossível parar. Minha gratidão pela sua sensibilidade, que é uma de suas marcas características.

Fred Ciappina disse...

Lembro-me muito bem do Claudião, (como era chamado carinhosamente pelos colegas de turma no Colégio São José), hoje Professor Cláudio. Havia nele sim alguma coisa que o diferenciava. Notório era seu talento para as artes cênicas. Seu dedilhar no violão mostrava também mais talentos agregado a mesma pessoa. Tanto no teclado como nos estudos, sempre usou da sua harmonia e de sua boa educação. Seu linguajar e sua suave eloqüência queriam dizer alguma coisa para nós. Hoje temos a resposta dos dons oferecidos por Deus a ele, pois colheita enche os silos da educação no nosso município. Um grande abraço do colega da carteira 5 do lado direito da lousa.

Prof. Cláudio Silva disse...

Meu caro Ciappina, quantas lembranças dos nossos tempos de estudantes. Você, destaque na fanfarra com seu trompete, e com um futebol de dar inveja. Recordando nossa turma de amigos, vemos com satisfação que todos se encaminharam na vida. E hoje estruturam suas familias e servem à sociedade com os talentos que receberam do Pai. Cada reencontro é um misto de alegria e nostalgia, de um processo educacionl que nos marcou a todos de forma indelével. Um abraço e grato pelas referências e a honra do acesso.

Vagner Silva disse...

Sempre tive educadores formidáveis, lembro-me de todos com um carinho peculiar. E essa era uma linha tênue, entre a razão e afetividade. Agora elevando meus pensamentos sobre o vosso texto, me recordo de professores um tanto quanto opressivos, mas a vontade de nos ver vencer e transpor obstáculos ofuscava um pouco a fraternidade e amizade, dando lugar a razão. Agora me dou conta do valor daquela oportunidade, as vezes desperdiçadas.

A paixão pelas coisas que faço hoje em dia, que aliás, eu adoro, foi despertada um pouco tardia, mas consegui desenvolve-las a ponto de trabalhar e viver por meio delas, mas tenho muitas outras paixões queria me dedicar a aprender mais, no entanto, a correria do dia a dia me sufocam. Lembro-me do meu professor de geográfica, tentando nos mostrar e quanto era fascinante o espaço, as estrelas e galáxias. E outro, com os ensinamentos da física, dos elementos e a ciência por tras de tudo isso. Na ocasião, pelo motivo de ser muito jovem e afoito, me passou tudo despercebido, fiz só o bastante para garantir as notas necessárias. Ah, como me arrependo disso, pois hoje eu degusto dos mais variados conteúdos, livros, séries, animações e documentário de física e astronomia.

O que quero passar é o quanto sou grato, e ao mesmo tempo arrependido de não ter aproveitado mais meus educadores, aproveitado mais a oportunidade que me foi concedida.
Para mim, professores tem uma responsabilidade muito grande, pois são como nossos pais, responsáveis pelo aprendizado e educação, e assim como os meus pais, eu gostaria que o Senhor Nosso Deus, os conservastes com saúde e uma vida longa, se possível, uma vida eterna.

Não tive a oportunidade tê-lo tido como mestre professor Cláudio, mas o pouco que o conheci, já demonstra que teria sido uma honra.
Feliz dia dos Professores!

Prof. Cláudio Silva disse...

O que dizer de um comentário como o seu, meu caro Vagner? Só agradecer ao Pai por ter me presenteado com essa vocação. Começaria tudo outra vez. Muito obrigado. Deus o abençoe