Cristiane Capuchinho
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
No Brasil, a correlação entre diploma universitário e emprego é alta: 9
em cada 10 homens com ensino superior entre 25 e 64 anos estão
empregados. Somadas às mulheres, o índice é de 85,6%. Os dados são do
relatório "Education at a Glance 2012" (“Um Olhar sobre a Educação”),
divulgado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico).
Além de ter trabalho, quem chegou à universidade tem grande vantagem financeira.
O salário é quase quatro vezes maior do que a renda de quem não
concluiu o ensino médio. É o país com a maior diferença verificada
dentre os 32 pesquisados.
Para especialistas em educação, o resultado aponta para a hipervalorização do ensino superior, que ainda tem acesso restrito – apenas 11% da população entre 25 e 64 anos atingiram essa escolaridade.
“O Brasil não conseguiu, como fez a Coreia do Sul, fazer com que uma
geração mais jovem alcançasse o ensino superior em grande quantidade.
Assim o diplomado tem um diferencial de mercado, mesmo quando o diploma
não representa qualidade de ensino”, aponta Daniel Cara, coordenador
geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.
68% daqueles que completaram o curso superior ganham mais do que duas vezes o rendimento médio da população.
Para Cara, deve ser levado em conta também que o mercado trabalho
brasileiro paga baixos salários aos jovens, muitos deles contratados em
condições de subemprego. Segundo o relatório da OCDE, 29% dos que não
completaram o ensino médio recebem menos do que a metade do rendimento
médio da população.
Naercio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do
Insper-SP (Instituto de Ensino e Pesquisa de São Paulo), acredita que a
expansão do acesso ao ensino superior pode levar a uma redução da
diferença entre salários de universitários em relação àqueles com ensino
médio nos próximos anos. “A diferença tem caído desde 2007 devido ao
aumento do número de formados”.
Valor do ensino
“Os dados tendem a fazer com que o jovem valorize a escolarização. Quem
é formado consegue emprego, mesmo trabalhando em atividades que não
demandariam aquela formação”, considera Ocimar Munhoz Alavarse,
professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.
Apesar de a educação ser valorizada pelos jovens,
o professor Alavarse analisa que o sistema educacional brasileiro é
extremamente seletivo e não está à disposição de todos que a pretendem.
“O Brasil é o quinto país que mais reprova no mundo. Mais de 40% dos
jovens no ensino médio ainda estudam à noite. Isso mostra que a nossa
escolarização ainda têm uma oferta restrita ou em condições precárias”,
completa.
Investimento
Apesar
do aumento no investimento em educação apresentado pelo Brasil, que
passou de 10,5% dos recursos públicos em 2000 para 16,8% dos recursos em
2009, o
estudo da OCDE mostra que o país ainda investe apenas 5,5% do PIB na
educação, abaixo da média de 6,23% dos outros países pesquisados.
Daniel Cara destaca que os recursos, além de insuficientes, são mal
distribuídos entre os diferentes níveis de ensino. “Hoje o ensino
fundamental fica com quase 60% dos recursos e o ensino superior com 15%,
o restante vai para ensino médio e ensino infantil. Ainda estamos muito
distante de chegar às médias da OCDE e de garantir um padrão mínimo de
qualidade”.
Enquanto no ensino pré-primário o Brasil investiu USD 1,696 (dólar
americano) por aluno, a média dos países da OCDE foi de USD 6,670; no
ensino primário o país gastou USD 2,405 e a média da OCDE foi USD 7,719;
com a educação secundária o investimento brasileiro foi de USD 2,235 e a
média dos países da OCDE foi de USD 9,312.
“O Brasil tem um processo de escolarização muito atrasado e uma
necessidade de melhoria da estrutura das escolas, o que projeta para o
país, ao menos ainda uma década, com maiores investimentos”, diagnostica
Alavarse.
OCDE
A OCDE é uma organização internacional para cooperação e
desenvolvimento dos países membros. Fazem parte da OCDE: Austrália,
Áustria, Bélgica, Canadá, Chile, República Tcheca, Dinamarca, Estônia,
Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Hungria, Islândia, Irlanda, Israel,
Itália, Japão, Coreia, Luxemburgo, México, Holanda, Nova Zelândia,
Noruega, Polônia, Portugal, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Suécia,
Suíça, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos.
O relatório "Education at a Glance 2012" ("Olhar sobre a Educação")
analisa os sistemas de ensino dos 34 países membros da OCDE, bem como os
da Argentina, Brasil, China, Índia, Indonésia, Rússia, Arábia Saudita e
África do Sul.
Confira o relatório completo aqui.
ÚLTIMA CRÔNICA DO PROF. CLÁUDIO SILVA: AS RAPOSAS E O GALINHEIRO
http://profclaudiosilva.blogspot.com.br/2012/09/as-raposas-e-o-galinheiro-refletindo.html
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