A inovação é um objetivo relevante da política industrial de um
país na medida em que as empresas que inovam dão uma contribuição maior
para o seu desenvolvimento econômico. Tanto no Brasil como em outros
países observa-se que as empresas inovadoras crescem mais e são mais
bem-sucedidas do que as que não inovam.
A inovação é um processo complexo que exige grande interação social,
estoque de conhecimento acumulado, gestão específica e injeção de
capital.
Segundo W. Brian Arthur, em The Nature of Technology, as
novas tecnologias aparecem pela combinação de tecnologias já existentes
e, portanto, pode-se dizer que as tecnologias existentes geram as novas
tecnologias.
As novas tecnologias, depois de algum tempo, se tornam possíveis
componentes – como se fossem tijolos – para a construção de tecnologias
ainda mais novas. As tecnologias se criam por si mesmas e de si mesmas. É
um modelo de evolução combinatória.
No entanto, este argumento não está completo. Se assim fosse,
tecnologias como o radar – que derivam de princípios científicos
desconhecidos no Século V aC – teriam que ser criadas a partir das
tecnologias da produção de potes de cerâmica e da construção de arcos e
flechas.
A evolução da tecnologia depende, também, e fundamentalmente, dos
novos conhecimentos a respeito dos fenômenos naturais. É o conhecimento
científico (que está ligado às ciências naturais) que embasa parte do
desenvolvimento tecnológico, sendo o principal responsável pelas novas
invenções.
A inovação tecnológica depende, portanto, das tecnologias existentes,
das demandas sociais (uma vez que a tecnologia se caracteriza por
atender a um mercado demandante e de uma cultura de povo que exige maior
qualidade e inovação dos produtos) e do estoque de conhecimentos
científicos disponível.
Para entender e padronizar o que chamamos aqui de “inovações tecnológicas”, é preciso definir tecnologia. Uma definição possível e aceita é a elaborada pelo próprio Brian Arthur:
“Tecnologia é uma coleção de componentes e práticas disponíveis a
uma cultura que têm o objetivo de atender a uma demanda humana. As
tecnologias consistem de partes que compõem um sistema organizado de
componentes, ou módulos. Neste sentido, tecnologia é uma forma de
organizar e utilizar fenômenos para uso humano.”
Portanto, quanto maior o estoque de tecnologia, mais provável é para
uma sociedade gerar mais e novas tecnologias. O mesmo se dá do domínio
por parte da sociedade dos conhecimentos sobre a natureza.
As demandas da sociedade criam exigências e mercados que estimulam a
inovação tecnológica. Por isso, sociedades mais cultas e exigentes
tendem a fazer com que novas tecnologias surjam com mais frequência em
seu interior.
Mecanismos que facilitem a comunicação entre os conhecimentos da
natureza e os desenvolvedores de tecnologias, tanto quanto entre estes e
as demandas sociais, que são mecanismos fundamentais para a produção de
novas tecnologias.
Se não houver uma forte e eficaz ligação entre estes segmentos, o
desenvolvimento tecnológico é imensamente prejudicado. Não basta inflar
com projetos e recursos os círculos relativos aos conhecimentos da
natureza e às demandas sociais: é preciso alargar as conexões entre
estes círculos e o estoque de tecnologia.
Não sendo a inovação tecnológica mera aplicação da ciência – uma vez
que ela precisa não só do conhecimento científico, mas do próprio
estoque de tecnologia existente, da demanda social, com seus aspectos
econômicos e comerciais, e dos fluxos entre estas três componentes –
investir somente em ciência não faz com que a geração de inovação
prospere.
É na oxigenação permanente e na ligação eficaz entre as três
componentes (conhecimentos da natureza, as demandas sociais e estoques
de tecnologia) que se efetiva a geração da inovação.
Qualquer projeto que pretenda estimular a geração da inovação deve
preocupar-se, fundamentalmente, com os mecanismos de interação entre
esses três componentes, como mostra de forma esquemática o quadro
abaixo:
Roberto Leal Lobo e Silva Filho
Ex-reitor da USP (1990-1993) e da Universidade de Mogi das Cruzes (1996-1999), foi diretor do CNPq e é presidente do Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educação, da Ciência e da Tecnologia. Formado em Engenharia Elétrica pela PUC-Rio, fez mestrado e doutorado pela Universidade Purdue.
CAMPEÃ DE ACESSOS: AS RAPOSAS E O GALINHEIRO
http://profclaudiosilva.blogspot.com.br/2012/09/as-raposas-e-o-galinheiro-refletindo.html
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