Economia
Terça-feira, 18/09/2012
Daniel Csatellano/ Gazeta do Povo
Esther, diretora pedagógica da Escola Atuação: “dança das cadeiras” entre os professores
Escolas batem a inflação. De novo
Folha de pagamento é o item que vem exercendo
a maior pressão sobre o custo das escolas, com destaque para o salário
dos professores
Pelo
segundo ano consecutivo, as mensalidades escolares de Curitiba vão
subir acima da inflação projetada para 2012, segundo estimativa do
Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sindepe-PR). Nos últimos
12 meses, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de
Curitiba e região metropolitana – que mede a inflação oficial no período
– acumulou alta de 5,22%, mas algumas escolas já anunciaram reajustes
que variam de 6 a 9,5% para o próximo ano. A média deve ficar em 8%,
segundo projeções do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (Dieese).
De acordo com o
presidente do Sindepe-PR, Ademar Batista Pereira, a maior pressão sobre o
custos das escolas particulares vem dos gastos com a folha de pagamento
de funcionários, sobretudo professores. Plano de cargos e salários,
bonificações atreladas a metas e investimento em capacitação – que até
pouco tempo não faziam parte da realidade das escolas particulares –,
entraram no planejamento dessas instituições e vêm pressionando custos e
mensalidades. Tudo isso para evitar a rotatividade e manter o quadro de
professores, que são bastante disputados em alguns períodos do ano,
garantem os gestores das escolas.
Reajuste é definido com base em uma lista de variáveis
Ano a ano as escolas fazem um planejamento detalhado que serve base para calcular o reajuste das mensalidades. No cálculo entram variáveis como os salários de professores e funcionários, impostos, custos de manutenção do espaço físico e da estrutura funcional da escola, inadimplência, além das projeções de investimentos a serem feitos ao longo do ano. O reajuste deve cobrir a diferença de custos de um ano para o outro. A maior dificuldade para chegar a um porcentual de aumento justo, segundo o presidente do Sindepe-PR, Ademar Pereira, é prever os custos variáveis. Neste caso, é importante que os gestores estejam atentos as projeções feitas pelos analistas sobre o cenário econômico, afirma ele.O índice de inadimplência nas escolas particulares de Curitiba, que foi de 8% em 2011, deve fechar o ano entre 10 e 11%, segundo o Sindepe-PR. De acordo com Pereira, a inadimplência é danosa para as escolas, que precisam absorver os custos das mensalidades não pagas. Isso porque a Lei 9.870, de 1999, que trata do valor das mensalidades escolares, proíbe as escolas de desligarem os alunos inadimplentes antes do final do período. “Com o endividamento em alta, muitas famílias deixam de pagar as mensalidades porque sabem que as escolas não podem cancelar a matrícula antes do término do período letivo”, observa Ademar. Com isso, a inadimplência entra no cálculo do reajuste e acaba sendo repassada aos alunos que pagam corretamente.
Alimentação
Para as escolas que oferecem ensino integral, o custo da alimentação pesou no cálculo do reajuste. De janeiro a agosto deste ano, a alimentação subiu 5,42% na Grande Curitiba. A variação é ainda maior nos últimos doze meses, quando os itens que compõem o grupo acumularam alta de 9,81%. Com uma unidade no Boqueirão e outra no Santa Quitéria, a Escola Atuação tem cerca de 60% dos 1.300 alunos estudando em período integral. A alta dos alimentou impactou a planilha de custos da escola, que vai reajustar a mensalidade entre 8 e 9%.
Inadimplência
As escolas precisam incluir no preço da mensalidade uma estimativa da inadimplência no ano seguinte. Como a lei proíbe o desligamento, durante o ano letivo, de alunos com mensalidades atrasadas, o valor precisa ser absorvido pela administração da escola.
Para o Sindicato dos Professores no Estado do Paraná
(Sinpropar) o salário dos professores não cresceu na mesma proporção do
valor das matrículas e não justifica a pressão alegada pelas escolas.
Segundo levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e
Estudos Socioeconômicos (Dieese), encomendado pelo Sinpropar, de 2007 a
2011 o reajuste médio das matrículas foi de 42,42%, enquanto o salário
dos professores do ensino médio e fundamental cresceu 32,54%. “Em 2011,
as mensalidades subiram cerca de acima de 9%, mas os salários tiveram
apenas a correção da inflação, que foi de 6,36%”, explica o economista
Cid Cordeiro, do Dieese.
Embora o cálculo do reajuste das mensalidades não leve em conta
apenas as despesas com folha de pagamento, o custo médio das escolas com
esse item aproxima-se de 70%, segundo estimativa do próprio Dieese. A
data-base da categoria é em março, mas os sindicatos ainda não chegaram a
um acordo. As escolas estão oferecendo 7% de reajuste, que equivale ao
mesmo porcentual já aceito pelos auxiliares. Já os professores querem
aumento de 10%. “Os auxiliares só fecharam em 7% porque receberam
aumento de 15% no piso salarial”, esclarece Sérgio Gonçalves Lima,
presidente do Sinpropar.
Gasto necessário
Mesmo com 80% do orçamento comprometido pelos gastos com salários, o
diretor do Colégio Erasto Gaertner, Henrique Wall, justifica que “a
qualidade do ensino depende da qualificação desses profissionais”. A
escola ainda aguarda uma sinalização do Sindepe-PR para fechar o valor
exato do reajuste, que deve variar entre 6 e 9%.
No Colégio Marista Santa Maria, no bairro São Lourenço, o reajuste
foi definido em 9%. De acordo com o diretor geral, Flávio Antônio Sandi,
a folha de pagamento corresponde a 51% do orçamento. O aumento das
mensalidades contempla também os investimentos em tecnologia, a alta do
preço dos alimentos e os custos com a recente implementação do plano de
cargos e salários para professores, que ainda não foram totalmente
absorvidos pela instituição.
Escolas apostam em plano de cargos e salários para manter equipe
Há cinco anos, planos de cargos e salários e bonificações eram
mecanismos usados apenas pelas grandes empresas para premiar seus
funcionários pelo bom desempenho. Agora, a tendência se expandiu e
chegou também às escolas particulares, que aderiram à ideia para
preservar seu quadro de professores diante da demanda do mercado. Para a
diretora pedagógica da Escola Atuação, Esther Cristina Pereira, existem
períodos do ano em que é possível perceber uma “verdadeira dança das
cadeiras”. “A rede pública é o destino de boa parte dos professores que
nos deixam. Eles vão em busca de estabilidade, mas costumo dizer que a
estabilidade quem faz é o próprio professor”, afirma Esther. Para se
precaver da falta de profissionais e valorizar o corpo docente, a escola
implantou participação nos lucros para os professores. O valor varia de
acordo com o número de matrículas feitas no início e pode chegar a um
salário e meio, pago sempre no mês de outubro. A escola também custeia
viagens para os professores com mais de cinco anos de escola. Na última
viagem, um grupo de professores da escola passou 11 dias na Itália. A
professora Alesandra Lamb foi uma das felizardas. Há sete anos
lecionando para o quinto ano do ensino fundamental na Escola Atuação,
ela destaca a relação construída na escola e o bom ambiente de trabalho.
“Aqui falamos e somos ouvidos”, afirma Alesandra, que trabalha dois
períodos e recebe R$ 1.100 para cada um.
Metas
“É natural que os melhores professores sejam disputados no mercado,
mas isso tem um custo”, ressalta o gerente de marketing do Colégio
Erasto Gaertner, Gerson Gantzel. Mesmo com perfil diferente das grandes
escolas da capital, o colégio, localizado no bairro Boqueirão, também
apostou em prêmios e comissões atrelados a metas de aprovação nos
vestibulares e boas notas no ENEM para premiar seus professores. Os
valores variam de acordo com a qualificação e desempenho dos
profissionais, mas podem levar a um incremento entre 3 e 30% no salário.
CRÔNICA INÉDITA DO PROF.
CLÁUDIO SILVA: AS RAPOSAS E O GALINHEIRO
http://profclaudiosilva.blogspot.com.br/2012/09/as-raposas-e-o-galinheiro-refletindo.html
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