sexta-feira, 7 de setembro de 2012

AS RAPOSAS E O GALINHEIRO - refletindo com as fábulas




*Por Cláudio Silva

A tradição oral da humanidade sempre se valeu das fábulas para a transmissão de ensinamentos morais. Mas também na Literatura, quantos não guardamos na memória narrativas marcantes, lidas ainda na infância para nós pelos nossos pais e professores? Curiosas estórias criadas por Esopo, Andersen, La Fontayne, o nosso Monteiro Lobato, e tantos outros que se notabilizaram por elaborarem enredos que traziam lições de  vida tão importantes, que até hoje, já adultos, evocamos em muitos momentos. 


Retomando as reflexões da crônica anterior CONHECE A ESTÓRIA DO SÁBIO?, sobre a importância das decisões na vida, vamos recorrer a uma fábula para ilustrar o peso agora das decisões coletivas. 


“Era uma vez um grande galinheiro, onde viviam galos, perus, galinhas e várias outras aves com os seus pintainhos. Certo dia, uma raposa procurou as aves responsáveis pelo lugar e aparentando bondade e simpatia, propôs:


- Amigos, por favor não se assustem, nem tenham medo de mim. Agora sou uma raposa regenerada, assim como as companheiras do meu bando. E em nome delas vim aqui especialmente para fazer uma proposta! 


- Uma raposa boa? - exclamaram desconfiados e guardando distância. - Chi, isso está muito  esquisito!


A raposa continuou:
- Sabe, eu e minhas colegas raposas estamos cansadas de viver correndo de um lado para o outro, fugindo dos caçadores. Hoje estamos amadurecidas e resolvemos mudar de vida. Transformamo-nos em raposas boas e respeitadoras de todos os galinheiros. Tanto que seríamos incapazes de fazer mal a um só pintainho que fosse. Agora só nos alimentamos de tenras frutas silvestres! – exclamou, conferindo emoção às palavras.


É claro que ela não revelou que eram perseguidas, porque ficaram famosas por aterrorizarem os galinheiros da região, para roubar ovos e abater os galináceos que encontrassem pela frente. 


 E continuou:
- Queremos apenas um local para viver em paz com todos. Um lugar sossegado como este galinheiro. Sabe amigas, nós gostaríamos muito de vir morar aqui com vocês!


- Morar conosco aqui no galinheiro? Não acredito!! - exclamaram as aves, quase que em uníssono, sem crer no que estavam ouvindo.


- Calma, calma, meus amigos! Eu explico. Não queremos nada de graça. Vocês só terão vantagens. - emendou a raposa com um sorriso nos lábios e um semblante simpático e angelical. 


- Vejam, - continuou a raposa – como eu disse, vocês só terão vantagens mesmo. Como retribuição nós nos comprometemos a assumir todo o trabalho do galinheiro. Já imaginaram? Terão uma vida confortável, porque nós cuidaremos de suprir todas as suas necessidades!  


- Ooohhh! exclamaram.


- E tem mais, – prosseguiu - eu e o meu bando assumiremos também a segurança total do galinheiro. Iremos protegê-los de todos os perigos. Não será uma maravilha?!


- Oba! Não precisar trabalhar! Tempo livre pra fazer o que quiser. Legal! Não vamos perder essa! - festejaram os mais exaltados. 


Em tempos passados, numa época que boa parte dos mais novos não havia chegado a vivenciar, aquele mesmo bando havia semeado o terror no galinheiro deixando um rastro de destruição. E as lembranças ainda estavam bem vivas na memória dos mais velhos.


Calma pessoal.  Essas coisas não se decidem assim. - observaram alguns.


Ao que responderam:
- Calma nada. Vamos fechar o negócio já. Seria uma burrice perder uma chance dessas. O que estamos esperando? Vocês não viram? Só teremos vantagens!


Mas, entre exaltações de ânimos e tentativas de ponderações, a maioria acabou concluindo que seria mesmo prudente dar um tempo, e analisar melhor a proposta com os demais membros do galinheiro. Afinal, em se tratando de raposa, é bom manter olhos e ouvidos atentos, e ter sempre um pé atrás, como recomenda a sabedoria. 


- Daremos a resposta outra hora, dona raposa - disse um dos galos.


- Oh, que pena amigos, seria tão prático para todos se decidíssemos já. Mas como preferem assim, tudo bem, ficaremos aguardando com expectativa. Só peço um favor:- Disse a raposa, batendo nos ombros dos galináceos e sempre sorridente-, pensem com carinho no grande bem que iremos prestar à vocês, viu?
 

No galinheiro o assunto quando foi apresentado causou grande alvoroço, como era de esperar.  Uns alertavam que era muito perigoso confiar em raposas. Outros, destacavam que aquela aparentava ser uma raposa diferente: boa, simpática e bem intencionada, além das vantagens que oferecia. E julgavam ser uma insensatez recusar oferta tão vantajosa que prometia revolucionar a vida do galinheiro.


 E durante um bom tempo aquele foi o assunto mais discutido, até que chegaram a uma conclusão. A maioria decidiu aceitar conviver com as raposas no galinheiro.


E assim aconteceu. O início, como não poderia ser diferente, foi muito estranho, porque enquanto uma parte das aves curtia deslumbrada as mordomias da nova vida, a outra se mantinha desconfiada com as estranhas companhias. E as raposas, por sua vez, esmeravam–se para ser o mais simpáticas, atenciosas e prestativas que  pudessem com todos. 


E à medida que o tempo passava, as coisas foram-se acomodando e tudo pareceu confirmar o que havia sido pactuado: as raposas trabalhando e tratando a todos com zelo e  cordialidade e as  aves curtindo as  maravilhas da nova  vida. 


Até que uma noite, depois de um longo tempo de convívio, quando já ninguém mais se lembrava dos temores do passado, as raposas se abateram de surpresa sobre as aves e foram devorando uma a uma as que encontraram pela frente, sem dó nem piedade. Assustadas, elas tentaram fugir, mas em vão, porque eram presas fáceis para os temíveis animais.


Um galinho garnizé, tremendo de medo, e que fora um dos mais entusiastas do pacto com as raposas, consegue perguntar à que havia arquitetado todo o plano:


               - Dona raposa, nós não as acolhemos tão bem no galinheiro? Porque agora estão fazendo isso conosco? 


               - Ora, ora, seu bobinho, simplesmente porque não podemos negar a nossa natureza de raposas!- respondeu lambendo os beiços e olhando-o bem fixamente nos olhos. 


E depois de uma sonora gargalhada acompanhada pelas demais companheiras de bando...”

MORAL DA HISTÓRIA:   Uma vez raposa...

"Os  contos  de fadas são  escritos para  que  as  crianças durmam, e  os  adultos despertem" ( Hans Christian Andersen)


*Cláudio Silva é mestre em Educação, Secretário Especial de Ensino Superior de Apucarana (Pr) e ex- presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação-UNDIME/PR.                                                                                                                      
Ficha Técnica:
Estrutura: Cláudia Alenkire Gonçalves da Silva (acadêmica de jornalismo)
Revisão: Prof.ª Doutoranda Leila Cleuri Pryjma

Bibliografia:
  • BULFINCH, Thomas. O LIVRO DE  OURO  DA  MITOLOGIA: histórias  de  deuses e heróis. Rio  de  Janeiro: PocketOuro, 2009.
  • ESOPO. FÁBULAS, Tradução:  Pietro  Nassetti. São  Paulo: Editora  Martins  Claret, 2008
  • FEDRO. FÁBULAS.São Paulo: Editora Escala.
  • LA FONTAYNE, Jean de. FÁBULAS: FÁBULAS  DE  LA  FONTAYNE: antologia. São  Paulo: Editora  Martins  Claret, 2012
  • LOBATO, Monteiro. FÁBULAS.Rio  de  Janeiro. Editora Globo, 2011

 Leia mais crônicas do  Prof. Cláudio  Silva em  : 

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15 comentários:

Prof. Cláudio Silva disse...

DE: PIERO D´ERASMO - Roma ( Itália)
Està certo, Clàudio: uma raposa nasce, vive e morre como raposa. Gostei da història.

Um abraço.

Piero

P.S. Jà estou agendando encontros na regiao Norte do Paranà (por enquanto em Londrina). Vocè por acaso jà sabe quando vai sair de fèrias? Seria uma pena eu passar por Apucarana e nao me encontrar com voce. Mas se eu souber antes seu programma para o mès de janeiro e fevereiro, posso agendar melhor minha viagem na sua terra

Prof. Cláudio Silva disse...

Caro amigo Pierino,

Sua postagem é sempre uma honra. Estamos organzando um período de descanso em família, e dependemos ainda de algumas datas de férias das filhas. assim que tivermos definido avisaremos à você. Será uma grande satisfação reencontra-lo.

Um grande abraço

Prof. Cláudio Silva disse...

DE: WANIA REGINA

Boa noite!!


Agradeço especial atenção ao enviar-me artigos fazendo-nos refletir e se posicionar dentro das verdades contidas em seus textos.

Especialmente quando li a fábula da raposa e das galinhas....

Pois é... Reflitamos pois, trazendo o texto as (realidades do dia a dia)...

Quantas "NOBRES"" raposas passeiam por entre nós, sedentes que estào sempre de ardilosamente nos confundir ao imaginarmos que sào capazes de mansamente se unir aos do bem e como nas fábulas transformarem-se no bem e na PAZ para felicidade de todos....

Tomemos cuidado muitos de nós (incautos na fé) em acreditar que tào facilmente se despersonaliza o mau e se torna BEM.

Grande Mestre...Boa Semana!

Prof. Cláudio Silva disse...

Cara Wania,

Sua reflexão vai de encontro às palavras da escritora Nélida Pinõn , que muito admiro, em uma entrevista nesta semana na TV CULTURA: "O quotidiano é que nos salva", dizia.
Muito agradecido pela honra da postagem

Um abraço

Prof. Cláudio Silva disse...

DE: Ir. Juliana Tartas ( Curitiba-Pr)

Que Deus o ilumine sempre mais. Admiro
o seu dom de compor e editar estes textos.
Obrigada e minhas orações por vocês
Ir. Juliana Tartas

Prof. Cláudio Silva disse...

Querida Irmã Juliana,

A admiração é mútua em se tratando da senhora, uma exímia artista que faz da pintura e da música um hino de louvor ao Senhor. Serão sempre inesquecíveis nossas experiências no Oração pela Arte (OPA) com o querido Padre Irala. Que até hoje impulsiona todos aqueles jovens daquela época a colocar os talentos à disposição do Evangelho.
Um grande abraço

Prof. Cláudio Silva disse...

DE: Prof. Paulo Rogério (Arapongas - Pr)

Excelente fábula.

Serve para nós refletirmos bem o nosso cotidiano e prestar bem nas pessoas que nos cercam.
Paulo Rogério de Oliveira - Agente Educacional II


E.E.P. REGINA CÉLIA ALVES DOS SANTOS DOMIT - E.F.
ARAPONGAS - PARANÁ

Prof. Cláudio Silva disse...

Nossos agradecimentos pela honra de recebermos sua postagem professor Paulo.
É sempre uma satisfação receber seus comentários sempre muito pertinentes.

Um grande abraço

Prof. Cláudio Silva disse...

DE: Dirlei Elias

A frase citada veio de encontro com o que acredito, fazendo com que tenha certeza que devemos acreditar em nosso trabalho.
Obrigada.

Prof. Cláudio Silva disse...

Olá Dirlei

Realmente,

“Não nos cansemos de fazer o melhor, porque a seu tempo colheremos.” (
Gál. 6, 7- 9)

Um abraço

Prof. Cláudio Silva disse...

De: Ana Britici Valério

Cláudio, adorei a sua fábula. Está muito bem escrita, ideias bem amarradas e um conteúdo excelente. É um texto narrativo muito bem fundamentado. Parabéns. Bjs

Prof. Cláudio Silva disse...

De: Monsenhor Roberto Carrara

Caro Prof. Claudio,recebi sua fábula e já li. Não vai querer substituir o Monteiro Lobato, vai? E se conseguir, nossos parabéns. Boa noite

Anônimo disse...

Parabéns Prof. Claudio, adorei sua fábula muito inteligente. Boa noite

Prof. Cláudio Silva disse...

Muito agradecido. Estamos dessa forma escrevendo o nosso livro. Vamos produzindo e encaminhando aos amigos. As produçfões que tiverem maior aceitação serão incluídas na publicação. Muito agradecido pela honra de sua apreciação. Um abraço

Prof. Cláudio Silva disse...

De: Profa Marilucia Emico Endo

Olá, profº Cláudio.

Adorei!!

Que Deus derrame sempre suas bençãos em sua vida, e em sua família também.

Abraços Marilúcia