Foram entrevistadas mais de 5 mil pessoas e resultados apontam que apenas metade pode ser considerada leitoras
Agência Brasil
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BRASÍLIA - O brasileiro sabe da importância da leitura para progredir
na vida, mas continua considerando a atividade desinteressante. Este é o
principal diagnóstico da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil,
divulgada nessa semana pelo Instituto Pró-Livro. Foram entrevistadas
mais de 5 mil pessoas em 315 municípios e os resultados apontam que
apenas metade delas pode ser considerada leitoras. O critério é ter lido
pelo menos um livro nos últimos três meses.Entre os participantes, 64%
concordaram totalmente com a afirmação “ler bastante pode fazer uma
pessoa vencer na vida e melhorar sua situação econômica”. Mas 30%
disseram que não gostam de ler, 37% gostam um pouco e 25% gostam muito.
Entre os não leitores, a principal razão para não ter lido nos últimos
meses é a “falta de tempo”, apontada por 53% dos entrevistados. No topo
da lista aparecem também justificativas como “não gosto de ler” (30%) ou
“prefiro outras atividades” (21%).
A professora Vera Aguiar, da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), explicou
que a falta de hábito de leitura no país é cultural.
- Nossa
cultura é muito oral. Se a gente pensa na religião, nas festas como o
carnaval ou nos esportes como o futebol, percebe que o brasileiro
prefere atividades exteriores que envolvam muitas pessoas - aponta a
pesquisadora da Faculdade de Letras da PUC-RS.
Vera defende que
mesmo sendo uma questão cultural, é possível mudar o quadro com ações de
incentivo à leitura. Ela acredita que nas últimas décadas houve um
incremento grande de programas voltados para o estímulo da leitura, mas
as iniciativas ainda não tiveram o efeito esperado.
- Há várias
iniciativas de vários setores da sociedade – governos municipais,
estaduais e federal, ONGs (organizações não governamentais),
universidades – mas mesmo assim é pouco. Essas ações precisam ser mais
articuladas - disse.
Para Maria Antonieta Cunha, professora da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e diretora do programa do
Livro Leitura e Literatura do Ministério da Cultura, o brasileiro
associa a leitura à obrigação e não ao prazer. Um trecho do estudo que
evidencia essa tese são as respostas dos entrevistados à pergunta “qual é
o significado da leitura para você”. Mais de 60%, acham que ler uma
“fonte de conhecimento para a vida”, “fonte de conhecimento para
atualização profissional” (41%) e “fonte de conhecimento para a escola”
(35%). Para a professora, os resultados indicam que a maioria das
pessoas não associa diretamente a leitura a uma atividade de lazer.
-
A questão é que nós não temos a leitura como um valor social. A pessoa
não conseguiu descobrir que a leitura trabalha, mais do que tudo, com a
transcendência, que é o grande item do ser humano. É aquilo que diz
Fernando Pessoa: 'a literatura é uma confissão de que a vida não basta -
disse Maria Antonieta durante o lançamento da pesquisa.
O estudo
também demonstra que o hábito da leitura está conectado com a frequência
à escola. Entre os que estudam estão apenas 16% do total da população
de não leitores. Mesmo entre aqueles considerados leitores, a média de
obras lidas é 1,4 para quem não está estudando ante 3,4 para quem estuda
(considerando os últimos três meses).
- Que escola é essa que nós temos que não consegue desenvolver leitores para a vida inteira? - pergunta Maria Antonieta.
A
representante do Ministério da Cultura defende que as escolas e as
bibliotecas, apontadas como um local desinteressante pelos
entrevistados, precisam ter bons mediadores de leitura.
- São
professores verdadeiramente capazes de fazer o olhinho do aluno brilhar
ao ouvir uma história. Para isso o próprio professor precisa ser um
apaixonado pela leitura - disse.
Fonte: http://oglobo.globo.com/educacao/brasileiro-reconhece-leitura-mas-prefere-outras-atividades-4473230
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