“Os
corpos chegam em um caminhão baú, todos despidos, sem nenhuma
identificação e são despejados juntos no mesmo buraco.” Testemunhou
Lancellotti sobre enterro de"indigentes" na cidade de São Paulo
A
Via Sacra do Povo das Ruas de São Paulo, este ano percorreu a
Cracolândia. Foi feita memória da truculência com que são tratados, da
falta de compromisso social. A forma com que Governo de São Paulo e
Prefeitura trataram e tratam este drama social, a falta de políticas
públicas que tem feito aumentar o número de pessoas na cidade mais rica
do país. O ato teve início por volta das 8h30 da manhã, desta
Sexta-feira Santa, na Praça Princesa Isabel- Centro.
Dados
Oficiais indicam cerca de 14 mil pessoas em situação de rua na Capital
Paulista, para a Irmã Regina Manoel esse número já bateu a casa dos
20mil. “Basta olhar pelas ruas para constatar. Só albergados são
9mil.” Irmã Regina classifica os albergues como uma política
equivocada. “As repúblicas são muito mais eficazes. Os gastos com
repúblicas são menores e permitem um passo mais efetivo para a
autonomia”. As repúblicas são residências coletivas onde cada usuário
precisa buscar uma renda mínima, comprar e fazer sua comida, arcar com a
limpeza da casa. “Existem pessoas que estão há muito tempo nas ruas,
precisam se readaptar aos empregos. É necessário passar por experiências
de convivência.” Irmã Regina lembra também, que na contra mão a
prefeitura de Kassab vem fechando as poucas repúblicas existentes.
“Albergue só não adianta. É preciso implantar ações de autonomia”. Irmã
Regina também lembra os doentes mentais que foram parar nas ruas depois
que os hospitais foram fechados. “O problema da saúde mental na rua é
seriíssimo.
Existe
hospital dia, mas como alguém que está na rua se organiza sozinho para
procurar atendimento?” pergunta irmã Regina. “ Outro equívoco perigoso é
pensar que quem está na rua é usuário de crack, e não podemos esquecer
que a cracolândia foi produzida. Esta população foi sendo empurrada para
cá.”
Depois
da operação que jogou bombas de gás na Cracolândia, o delegado Edison
de Santi, declaoru ao jornal o Estado de S.Paulo: "Creio que conseguimos
quebrar a espinha do tráfico",
As
pessoas que acompanham o dia-a-dia naquele local discordam. “Não é
passando com carro e moto por cima das pernas do povo da rua que vão dar
conta do problema. Não é com bomba de gás, bala de borracha, carro de
polícia tangendo os moradores”. afirma o padre Júlio Lancellotti. “Eles
continuam aí espalhados pela cidade.”
Para Júlio
Lancellotti a operação militar contribuiu para aumentar ainda mais a
violência contra morador de rua na medida em que criminalizaram
todos. “Quantos grandes traficantes foram presos nesta região?
Nenhum.” Pe. Júlio também lembrou como tem sido importante o trabalho
de Espíritas, Evangélicos e Católicos no acolhimento das pessoas em
situação de rua.
“Por
uma paz que luta, que se movimenta e busca em Deus e na luta uma cidade
melhor para todos”. Pediu a Pastora Mabel da Igreja Batista.
Participaram também o Padre Mauro e o Pastor Alcides da Igreja Metodista
os religiosos da Toca de Assis e muitos outros.
Durante
o percurso a Via Sacra parou na Esquina da Alameda Dino Bueno onde ex-
usuários de crack puderam contar suas histórias de luta com apoio das
organizações, para abandonar o vício. As encenações que foram
encerradas na porta da Sala São Paulo, lembravam o drama de idosos,
deficientes que moram nas ruas. Dos albergados que são humilhados por
patrões e colegas de trabalho por sua condição de moradia.
“Aos 13 já trabalhava,
Aos 16 já me drogava,
Aos 19 já tinha dois filhos
Hoje zombam de mim, os meus filhos.”
“Sou idoso, deficiente. Entro em um lugar pra comprar alguma coisa pra comer e não querem me vender”
“Moro no albergue, zombam, riem, funcionários, patrão, todos riem de mim, da minha condição.”
Júlio
Lancellotti levantou uma questão bastante séria sobre a identidade das
pessoas enterradas como indigentes na cidade de São Paulo. De Paulo
Maluf* até agora 130 mil corpos foram enterrados como de indigentes no
cemitério D. Bosco em Perus. Padre Júlio assistiu a um desses
sepultamentos. “Os corpos chegam em um caminhão baú, todos despidos, sem
nenhuma identificação e são despejados juntos no mesmo buraco.”
Testemunhou Lancellotti.
"Pai Celeste!
Como escutas o pedido
do pão de cada dia
da parte dos que temos
pão garantido
para o ano todo
e até para toda
a vida?
Como escutas o pedido
do pão de cada dia
da parte dos que, tantas vezes,
veem o dia acabar,
sem que chegue o pão?
O grave é que
se temos pão
para o mês inteiro,
para o ano todo,
ou para toda a vida,
é porque direta
ou indiretamente
tiramos o pão de cada dia
da boca de muita gente!
Pai, que a ninguém falte
o pão de cada dia!
Amém!"
Dom Hélder Câmara
*O
Cemitério Municipal Dom Bosco, localizado no Distrito de Perus, São
Paulo, foi parte integrante do sistema de repressão no país. Foi
construído pela Prefeitura da Capital em 1970,.na gestão do sr. Paulo
Maluf, e logo na sua inauguração transformado em cemitério exclusivo
para corpos de indigentes, entre os quais passaram a ser enviados
cadáveres de vítimas do regime. Dossiê
Fonte: http://www.falapovo.com/
Leia a crônica "ESTAVA ESCRITO NA CAMISETA DA MENINA" em Link: http://profclaudiosilva.blogspot.com/2012/04/estava-escrito-na-camiseta-da-menina.html
|
sábado, 7 de abril de 2012
VIA SACRA DO POVO DAS RUAS DE SÃO PAULO NA CRACOLÂNDIA (FALA POVO)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário