*Por Cláudio Silva
Esta, contou-me um amigo. Aconteceu no
contexto católico, mas poderia
muito bem ter ocorrido no contexto de
outras religiões. Semana Santa, Quinta-feira , à noite, –
diálogo de um casal:
-
Ela: “Vamos à igreja participar da
cerimônia do lava-pés” ?
-
Ele: “Vamos sim”.
-
Ela: “Chame o Júnior
então’.
-
Ele: “Ele não vai, foi à casa
da namorada. Ela vai passar
o dia fazendo um trabalho para a
faculdade amanhã, e eles
vão aproveitar para ficar
juntos hoje”.
Os outros
dois filhos do casal
estudam fora.
-
Ela: “É, pelo jeito as
tradições religiosas das nossas
famílias terminam em nós dois”.
E seguem, os
dois, para a igreja.
Sexta-feira
Santa, nove horas da manhã , novo diálogo:
- Ela: “Vamos
à cerimônia de adoração” ?
-
Ele: “Pode ir
você, preciso concluir um trabalho acadêmico, urgente. Se eu for
não vai dar tempo”. Diz, lamentando-se.
-Ela: “Quem sabe
o Júnior vai
comigo então”.
-
Ele: “Isso, convide-o. Assim você não
vai sozinha”.
Ela vai ver o
filho no quarto, que dorme profundamente. Fica com pena de acordá-lo, pois tem estudado muito
para o vestibular. Resolve ir sozinha, e no caminho
vai pensando em como a
vida mudou, alterando costumes e
tradições e distanciando até as
pessoas mais queridas. A fé aparentemente
parece não ser mais o maior ou um
dos grandes ponto de
unidade familiar e
consequentemente, social. Uma realidade que choca e assusta muitos ,
mas é a
constatação de que as
coisas realmente mudaram.
Em um email de felicitações de Páscoa uma minha
prima lamentava-se: “ ... as
pessoas perderam o brilho do espírito de páscoa, natal, e outros eventos religiosos!!!
infelizmente, estamos esquecendo tudo o que nos foi passado pelos nossos
pais......” . O que aconteceu? As
pessoas de repente perderam a fé ou
o amor familiar? Estou convicto que não. Vivemos
novos tempos, uma nova era que
impõe novas formas de expressão e
de relações. Nas gerações anteriores,
como nos tempos dos nossos
pais, vivia-se mais
coletivamente. Em família tomávamos
as refeições, assistíamos tv,
íamos ao
cinema, frequentávamos a igreja,
viajávamos. Diferentemente de hoje em que as
expressões tendem a ser
cada vez mais
individuais, mesmo nas
manifestações de fé
e tradição.
O mundo está imerso no individualismo. Já reparou nas ruas, quantos carros enormes com vários lugares, e os condutores praticamente sozinhos?
Fui resgatar alguns apontamentos sobre características
deste tempo que
a filosofia denomina de pós-modernidade. Ele é definido como um
tempo de incertezas, troca de
valores, desconstruções e fragmentações.
Uma de suas marcas
mais inquietantes como dito antes é o individualismo. À
ele some-se a superficialidade e
a falta de profundidade. Igualmente, o imediatismo, de não se pensar mais em termos
de futuro, mas de aqui e agora. Outras características são a moral utilitarista,
o conflito de gerações e a
provisoriedade, onde nada mais é considerado
definitivo. Pode-se inferir que esses aspectos somados criam
um quadro de crise, se esta for entendida como choque
de mudança.
São
transformações profundas trazidas pela pós
modernidade, que modificam
as estruturas e as aparências. Pode-se destacar à guisa de reflexão, dentre outras, duas
dimensões dessa crise, a social
e a religiosa, aproveitando o
fato que deu origem à esta reflexão. Na primeira , a
social, alguns dos aspectos observáveis são a desintegração dos
papéis e um mundo que
não mais cria
fraternidade por estar voltado
para o individualismo. Da mesma forma pode-se
observar o imediatismo, que nos condiciona a focar mais o quotidiano
e não mais o amanhã. A falta de
modelos exemplares e
confiáveis de vida é
outra característica herdada da pós modernidade. E na crise religiosa, pode-se
observar dentre vários aspectos a
volta aos fundamentalismos, a substituição de vivências coletivas
de fé e
religiosidade
por formas
individualistas do tipo ‘Eu e
Deus’ , com a ênfase no alcance de
necessidades pessoais imediatas e
não mais
no “Deus no
irmão”.
Ou seja, na
pós-modernidade saímos do
mundo do
NÓS para o
mundo do EU. E
nessa nova realidade, mesmo as
relações coletivas tendem a ser feitas
por meio de
canais “individualizantes”. O solitário pode estar conectado através de
redes de relacionamentos à um número
incontável de contatos, em sua maioria anônimos e/ou
distantes. Um coletivismo individualista, se isto
for possível. Laços frágeis
e superficiais.
Estamos ainda
engatinhando e meio
aturdidos na vivência desses novos
tempos, e a atitude mais sábia parece ser a
de tentar harmonizar essas novas
realidades com as oportunidades de
convivência fraterna que surgem a
cada dia.
Pode ser considerada uma pessoa sábia hoje aquele
e aquela que é capaz de buscar incessantemente o equilíbrio dentro dessa nova realidade, principalmente no âmbito da
família. Eis o desafio permanente. É
fácil? Creio ser
esse o verdadeiro
leão a ser enfrentado a cada dia.
Novos tempos trazem consigo novos
desafios, que pedem novos olhares e novas atitudes.
Um abraço!
*Cláudio
Silva é mestre em Educação, Secretário Especial de Ensino Superior de
Apucarana-PR e ex- presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de
Educação-UNDIME/PR.
Ficha
Técnica:
Estrutura: Cláudia Alenkire Gonçalves da
Silva (acadêmica de jornalismo)
Revisão: Prof.ª Doutoranda Leila Cleuri
Pryjma
PARA REFLEXÃO: CRÔNICA- "VAMOS COMIGO, FILHO!" – uma reflexão sobre a pós-modernidade - nova crônica do Prof. Cláudio Silva
Mais crônicas do Prof. Cláudio Silva em: http://profclaudiosilva.blogspot.com.br/2011/10/cronicas-sobre-educacao-do-prof-claudio.html
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