sábado, 7 de abril de 2012

Escolas buscam remédio antiviolência ( GAZETA DO POVO)

Especialistas dizem que não bastam políticas públicas para reduzir a criminalidade nas instituições de ensino. É preciso envolvimento total
07/04/2012 | 00:04 | Anna Simas
Antônio More/ Gazeta do Povo / Em colégios particulares, câmeras e catracas são as principais medidas contra a violência                                                                                            Em colégios particulares, câmeras e catracas são as principais medidas contra a violência 
Passado um ano do massacre que resultou na morte de 12 crianças em uma escola no bairro de Realengo, zona oeste do Rio, a efetividade da adoção de medidas de segurança – visando a coibir casos de violência de menor gravidade –, é uma preocupação viva em instituições públicas e privadas. Para especialistas, câmeras de segurança, muros, policiamento e empenho apenas das escolas não são suficientes para afastar de vez o perigo.
Para a doutora em Educação e professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Araci Asinelli da Luz, faltam políticas integradas de segurança que não envolvam apenas o poder público ou medidas pontuais, mas que tenham a participação de toda a comunidade. “O ideal seria adotar o modelo norte-americando: a comunidade estabelece as medidas de segurança e o governo as financia”, diz ela.
Alternativas
Além de policiamento, dar espaço ao diferente gera mais segurança
Anna Simas e Angélica Favretto, especial para a Gazeta do Povo
O policiamento que se tem hoje nas escolas para combater agressões físicas e psicológicas é insuficiente e as brechas para a violência ainda existem. Embora a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) não divulgue dados, a percepção de que o ambiente escolar é violento atinge 52% da população, segundo pesquisa divulgada ano passado pela Paraná Pesquisas.

Nas escolas particulares não há regras únicas de segurança, cada instituição tem autonomia para escolher qual medida adotar. Geralmente, elas optam por câmeras e controle rígido de entrada e saída das escolas, mas algumas vão além. “Tentamos bloquear situações de risco, entretanto sabemos do perigo que ronda os espaços próximos à escola”, diz a diretora do Dom Bosco da sede Batel, Célia Bitencourt, citando que recentemente uma mãe que ia buscar as filhas na escola fora assaltada.

Na rede municipal existe o apoio da Guarda Municipal, responsável por manter um agente dentro de cada escola nos horários de aula e que também auxilia no controle do trânsito. Já na rede estadual, a responsável é a Patrulha Escolar, que faz palestras e teatros educativos, além de atender a chamadas pontuais quando ocorre algum caso de violência.

Pontos cegos
Para o advogado especialista em segurança pública e professor da Universidade Positivo (UP) Maicon Guedes apenas o policiamento na porta da escola não é suficiente para manter um ambiente seguro. “Existem pontos cegos na escola, como estacionamento e banheiros isolados, espaços onde pode acontecer violência. Para evitar isso, o ideal é ter monitores que fiscalizem o tempo todo esses locais”.
Porém, para o especialista em política escolar e professor da Faculdade de São Paulo (USP) Roberto da Silva o policiamento e a vigilância rígida são formas de criminalizar a criança e o jovem e não resolvem o problema. “A escola precisa ter um lugar para manifestações daqueles alunos que não são os mais aplicados. Essa falta de espaço para o diferente, para aqueles que não se adequam como exemplos de comportamento, por exemplo, faz com que os alunos que se sentem excluídos gerem violência”.
Realengo ainda carrega feridas do massacre
Folhapress
O dia 7 de abril de 2011 marcou para sempre as famílias de 12 alunos da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, zona oeste do Rio, assassinados pelo ex-aluno Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos. No massacre, outras 11 crianças foram feridas.
Um ano depois do ataque, 42 alunos ainda recebem atendimento psicológico de uma equipe especial montada pela prefeitura. Elas tentam se recuperar do trauma causado pelo ex-aluno que na manhã de uma quinta-feira invadiu duas salas do 8.º ano atirando com dois revólveres.
Para ajudar os 1.162 alunos a superarem o trauma, a escola foi totalmente reformada. Um prédio novo foi construído ao lado do antigo. Grades substituíram os muros.

Professores também são orientados sobre como conduzir o assunto do massacre dentro e fora da sala de aula. “Nossa meta é continuar trabalhando em conjunto, porque só o coletivo é capaz de conseguir superar essa dor”, disse Luís Marduk, o diretor da escola.
Três psicólogos, dois assistentes sociais e dois professores investem em projetos para tentar apagar as marcas deixadas pelo massacre.
Síndrome do pânico, dificuldade de guardar informações, baixo desempenho escolar, depressão e insônia são alguns dos efeitos relatados.
Até aquele dia, a estudante Thayane Tavares Monteiro era um talento promissor no salto em distância. O atirador a atingiu quatro vezes e Thayane ficou paraplégica. “O maior salto que eu dei foi ter sobrevivido a quatro tiros”, diz a adolescente.
Alternativa
Atuação da população seria uma das saídas para levar mais segurança às escolas, segundo especialistas. Quem está dentro ou no entorno da escola e vive o problema é quem deve apontar a necessidade de mais portões, câmeras ou ações de combate às drogas ou ao bullying.

Em vez de políticas públicas, segundo Araci, naquele país é incentivado o protagonismo da população. Ou seja, quem está dentro ou no entorno da escola e vive o problema é quem aponta se serão necessários mais portões, câmeras ou ações de combate às drogas ou ao bullying, por exemplo. “Se o tráfico chega em uma escola, é porque a comunidade está vulnerável a ele, então é ela quem deve apontar o que precisa ser feito. De nada adianta a medida vir de fora e a sociedade não se comprometer”, diz.

Esse comprometimento de todos também afasta o bandido do ambiente escolar. À medida que ele conhece o trabalho da escola e suas necessidades, passa a respeitá-la. Nesse sentido o trabalho das lideranças comunitárias é essencial, pois são elas quem tem o papel de divulgar a importância da instituição de ensino.

Soluções
Existem outras medidas que vão além da participação da comunidade. Uma delas seria mudar a forma como o professor encara e trabalha com a violência. Para a coordenadora do projeto Não Violência, Adriana Araújo Bini, o docente precisa conversar mais com os alunos em sala de aula e incentivá-los a serem mais pacíficos, tolerantes e a controlarem a raiva. “Falta incentivo à paz. O professor foca no conteúdo e não diz às crianças e aos jovens como fazer. Se mudássemos isso, a violência reduziria muito”.

Porém, não cabe apenas ao docente o papel de educar contra a violência, até porque ele não é capaz de mapeá-la sozinho. Quando os pais participam da vida escolar dos filhos, ao frequentarem a instituição eles ficam sabendo o que os alunos fazem em horário de aula e até mesmo se seu filho é também um agressor, já que muitas vezes o jovem tem comportamento diferente em casa e na escola. “Há famílias que não vão à escola nem mesmo para pegar o boletim. Sem conhecer como o filho se comporta elas podem estar ajudando a criar pequenos monstros”, diz Cezar Bueno de Lima, sociólogo e pesquisador de políticas públicas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Esse desconhecimento em relação ao comportamento do filho é um dos grandes geradores de violência não apenas dentro da escola como fora dela.

Instituição ataca a ociosidade e as infrações
O Colégio Estadual Mil­­ton Carneiro, no Alto Bo­­queirão, em Curitiba, tem 941 alunos matriculados e é um exemplo de que o trabalho em comunidade pode gerar bons frutos. Desde agosto de 2010, a escola passou a adotar medidas próprias para conter o vandalismo, a desmotivação do corpo docente e dos alunos, e conseguiu reverter um quadro preocupante. Geneci Gonçalves, diretora da escola há nove meses, atuava, na época, na área pedagógica da instituição e conta que, sem o apoio dos pais, todo o projeto poderia ir por água abaixo. “Antes tínhamos dificuldade em ter os pais presentes em reuniões pedagógicas e por qualquer motivo os alunos faltavam. Com muito trabalho conseguimos mudar essa situação.” 

Substituição
Quando por algum motivo um professor falta, outro em hora atividade fica com os alunos em sala, contornando o que ela chama de uma “falha grave do ensino público”, a falta da figura dos professores substitutos imediatos. “Sem professor os alunos vão para o pátio, e ali, por não terem o que fazer, eles podem começar a discutir, a depredar e a pichar.”
Outra ideia que surtiu efeito foi a Sala de Medida Disciplinar. O aluno que é pego faltando aula, pulando muro ou cometendo qualquer outra falta grave, como desrespeitar colegas e professores, vai para uma sala onde é assistido por uma professora. Ali ele faz suas atividades até que o pai seja avisado da situação. “A distância dos colegas e o isolamento têm feito com que os alunos parem de tomar essas atitudes infratoras.”

Marcação cerrada
Para evitar que o aluno saia da sala e fique andando pelo colégio, inspetoras ficam nos corredores durante o período de aula cuidando da circulação. Ir ao banheiro, somente um de cada vez. 

Os alunos possuem, tam­­bém, uma ficha onde fica registrado tudo o que acontece com ele no tempo em que está matriculado na escola. Essa ficha é usada em conselhos de classe. Além disso, há um caderno de protocolo assinado pelo estudante toda vez que ele recebe um comunicado da escola dirigido aos pais. A entrada e a saída deles também é observada de perto por inspetores e direção, e a Patrulha Escolar, sempre que possível, está presente.
Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/pazsemvozemedo/conteudo.phtml?tl=1&id=1241909&tit=Escolas-buscam-remedio-antiviolencia

Um comentário:

Anônimo disse...

hoje mesmo o colegio levou um grande susto, pois o ponto de onibus proximo ao Colegio Milton Carneiro, ouve tiroteio, nao se sabe se a vitima morreu, o susto foi grande pois pegamos onibus neste ponto e ate alunos...