segunda-feira, 5 de março de 2012

EDUCAÇÃO SUPERIOR - Estudo do guarani será adotado na Universidade da Integração

Quinta-feira, 01 de março de 2012 - 17:50

O idioma guarani será disciplina obrigatória no curso de letras, artes e mediação cultural da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila). Terá dois anos de duração e começa a ser oferecido neste ano para todas as turmas.

De acordo com a coordenadora da implantação da disciplina, Alai Diniz, diversos fatores motivaram a Unila a desenvolver o projeto. Primeiro, porque o idioma guarani é falado em quatro países da América do Sul – Paraguai, Bolívia, Argentina e Brasil – que estão entre as nações de atuação da universidade, além de ser língua oficial do Paraguai desde 1992, junto com o espanhol, e língua oficial do Mercosul, desde 2007.

No Brasil, explica, o idioma é falado em municípios dos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Paraná e São Paulo. Outra razão citada pela coordenadora é o caráter versátil e integrador da universidade.

O estudo do guarani, segundo Alai, começa como disciplina curricular obrigatória no curso de letras, artes e mediação cultural, mas dentro de uma década deve abrir um campo de pesquisas que vai interessar a estudantes e profissionais da América do Sul. A nova disciplina será ensinada pelo professor Mário Ramão Villalva Filho, mestre em Integração da América Latina pela Universidade de São Paulo (USP), e graduado em língua guarani, no Paraguai, pelo Ateneo de Lengua y Cultura Guaraní. Villalva foi aprovado em concurso público da Unila e começa trabalhar neste semestre.

Barreiras – Mas até tornar obrigatório o estudo do guarani no curso de letras da Unila, Alai Diniz diz que foi preciso vencer algumas barreiras entre professores e estudantes da instituição, debate que durou cerca de dois meses. Entre os alunos, a principal pergunta era por que aprender guarani, língua que eles consideravam sem interesse profissional e de abrangência reduzida.

Um dos instrumentos usados para esclarecer dúvidas e mostrar a importância da língua na história da maior parte do continente sul-americano foi a abertura de um curso de extensão ministrado em 2011. O curso foi coordenado por um estudante da Unila, com graduação em guarani.

Segundo Alai, que também fez a extensão universitária, ao final da formação os estudantes mudaram a concepção que tinham da língua. Para encerrar o curso, a turma encenou uma peça de teatro no idioma guarani que foi apresentada a estudantes e professores na universidade.

Integração – Elemento de integração social e de defesa, o guarani foi fundamental na resistência dos combatentes durante a Guerra do Paraguai (de 1864 a 1870), enfrentamento que envolveu o país e a Tríplice Aliança formada por Brasil, Argentina e Uruguai. Neste episódio, explica Alai, os paraguaios se valeram da língua materna, então desconhecida pela maioria dos opositores, para construir estratégias e enfrentar o exército. Na Guerra do Chaco (1932-1935), conflito armado que envolveu o Paraguai e a Bolívia, o guarani também foi fundamental.

O quéchua, idioma falado por grupos étnicos em diversos países na região dos Andes, e o aimará, que predomina no Peru, Bolívia, Chile e Argentina, são os próximos idiomas a serem oferecidos aos estudantes da Unila.

A professora Alai é doutora em letras (língua espanhola e literatura espanhola e hispano-americana) pela Universidade de São Paulo (USP),  pós-doutora pela Universidade de Granada, na Espanha, e professora visitante sênior na Unila.

Unila – Instituição de ensino superior criada por lei em janeiro de 2010, a Universidade Federal da Integração Latino-Americana tem sede em Foz do Iguaçu (PR). Além de estudantes brasileiros, a instituição recebeu até 2011 alunos vindos da Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile, Bolívia e Peru. No processo seletivo de 2012, também ingressam em cursos superiores estudantes da Colômbia, Venezuela, El Salvador, Nicarágua e Haiti. As matrículas do primeiro semestre devem ser feitas até esta sexta-feira, 2, e as aulas começam no dia 12 deste mês.

Ionice Lorenzoni

Conheça o portal da Unila.

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