Terça-feira, 27/03/2012 Erildo Muller/JT
Por falta de opção no Paraná, o professor Erildo Müller se viu obrigado a viajar a São Paulo para fazer o doutorado
Abertura de novos cursos de pós-graduação obrigou universidades a trazer profissionais com título de doutor de outros estados
Publicado em 27/03/2012 | Diego Antonelli
Sete
em cada dez profissionais com doutorado que trabalham no Paraná
obtiveram o título em outros estados. É o que revela um levantamento do
Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social
(Ipardes) e da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino
Superior (Seti) divulgado recentemente. Dos 4.496 doutores
contabilizados em 2008, apenas 1.291 defenderam suas teses em
instituições paranaenses de ensino superior. A principal origem dos
profissionais que vieram de fora é São Paulo.
A
“importação” de profissionais deixa clara a deficiência do Paraná na
oferta de doutorados. Mas isso está mudando. O mesmo estudo aponta que o
estado registrou um crescimento superior à média nacional na criação
de cursos de doutorado entre 1999 e 2009 – 204% (de 26 para 79 cursos)
contra 78% no Brasil (de 800 para 1.421). É justamente essa relação que
explica o alto número de doutores formados fora do Paraná.
Oportunidade de trabalho atrai quem tem título
A engenheira civil Josiele Patias, 32 anos, saiu do interior de São Paulo há quatro anos para trabalhar no Paraná. Em 2007, ainda cursando doutorado na USP, em São Carlos, foi aprovada no concurso da Itaipu Binacional e fez as malas rumo à fronteira, onde viu uma oportunidade para a carreira. “Estava no meio do doutorado, tive a chance e vim”, conta.O doutorado faz diferença na atividade da engenheira, que é natural do Rio Grande do Sul. Hoje, além do trabalho dentro da hidrelétrica, ela atua no Centro de Estudos Avançados em Segurança de Barragem, no Parque Tecnológico de Itaipu, onde faz pesquisas e orienta alunos de graduação na área de iniciação tecnológica. “É uma área que envolve muita pesquisa”, salienta.
Rotina de viagens
O professor de Enfermagem da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Erildo Müller, bem que procurou, mas nenhuma instituição do estado oferecia doutorado na área de saúde coletiva. Entre 2009 e 2011, ele viajou quase todas as semanas a São Paulo para frequentar o curso na Escola Paulista de Medicina, ligada à Universidade Federal de São Paulo.
Antes, quando decidiu fazer mestrado, Müller também optou por estudar fora do Paraná, mas por uma questão de conveniência. “Havia um curso na Universidade Estadual de Londrina, mas, na época, era mais fácil me deslocar para Santa Catarina”, recorda ele, que é formado em Farmácia pela UEPG.
Denise Paro, da sucursal de Foz do Iguaçu, e Derek Kubaski, especial para a Gazeta do Povo
Olhar integrado
O fato de o Paraná ser um celeiro de doutores oriundos de outros estados não é visto de forma negativa pelos especialistas. A disseminação do conhecimento traz, segundo eles, impactos positivos. “A troca de aprendizado deve ser vista como algo saudável. Os alunos terão acesso a um conhecimento, que por vezes, não teriam com outro profissional”, afirma o doutor em Educação, Armando Terribili Filho. O pesquisador Mariano Macedo, do Ipardes, compartilha dessa opinião. “As pessoas que tiraram seus títulos em diferentes estados podem ir a outros lugares. Não é necessário existir ‘regionalismo’ quando o assunto é educação”, diz. A doutora em Educação, Andréa do Rocio, que leciona na Universidade Federal do Paraná, também avalia de forma positiva a inter-relação com profissionais de outros estados. “Assim, novas ideias e novos projetos podem ser desenvolvidos”, exemplifica.Apenas 3,3% trabalham no setor privado
O levantamento do Ipardes traz ainda uma dura constatação. Em 2008, apenas 1,4% dos doutores estava empregado em indústrias de transformação no Paraná e somente 1,9% atuava na área de agricultura e produção florestal. “A minoria trabalha em empresas, ao contrário do que acontece na Europa e nos Estados Unidos, por exemplo”, afirma o pesquisador Mariano Macedo. “Muitas empresas enxergam o doutor como um teórico e muitos doutores não querem se sujeitar a trabalhar em indústrias”, diz o doutor em Educação Armando Terribili Filho, que já trabalhou na iniciativa privada.Porém, Macedo acredita que gradativamente o Brasil seguirá essa tendência. “É nas empresas e fábricas que os doutores podem inovar e gerar riquezas, como novos produtos”, diz. (DA)
O diretor de pesquisas do Ipardes, Júlio Suzuki, explica que o
desenvolvimento do ensino superior no Paraná obrigou o estado a importar
doutores. Cursos recém-criados, por exemplo, precisam de professores
doutores para ministrar as aulas. “A demanda por doutores cresceu mais
do que o Paraná formava, o que levou ao contexto de importação destes
profissionais. Isso também demonstra que há espaço para que os cursos de
pós-graduação cresçam ainda mais no estado”, afirma.
Segundo o pesquisador Mariano Macedo, que participou do estudo,
aproximadamente 96,7% das pessoas que têm doutorado no Paraná trabalham
em universidades.
Mas, apesar do crescimento, a oferta de cursos no estado ainda está
longe do ideal. “Em números absolutos, a quantidade de programas de
doutorado ainda é pequena”, diz Maria Elizabeth Lunardi, coordenadora do
levantamento na Seti. No Rio Grande do Sul, por exemplo, existiam 140
cursos de doutorado em 2009 – 44% a mais que no Paraná.
O fato é que naquele ano o estado formou mais que o dobro de doutores
em relação à média brasileira. O número de titulados passou de 85, em
1999, para 411, um crescimento de 384%. Já o aumento no Brasil foi de
135%.
Para a doutora em Educação, formada na Universidade Federal do
Paraná, Andréa do Rocio, é essencial manter essa curva ascendente. “[A
criação de novos cursos] é um processo gradativo que deve continuar.
Assim, é possível trabalhar com pesquisas que atendam às realidades
locais”, ressalta.
Descentralização
O levantamento do Ipardes aponta para uma tendência de
descentralização da oferta de doutorados. Em 1996, as universidades
localizadas na Região Sudeste foram responsáveis por 89% dos doutores
titulados no país. Dez anos depois, essa proporção caiu para 70%. Entre
1996 e 2008, a participação paranaense na formação de doutores aumentou
de 1% para 3,3%.
“O Paraná já forma doutores que vão atuar em outros estados. Em
qualquer sistema de ensino, investir em pós-graduação é uma ótima ideia,
já que contribui para o desenvolvimento da sociedade e dos cursos de
ensino superior”, diz Macedo.
Titulação tem reflexo no avanço científico
Um estado com muitos doutores pode refletir em avanços científicos e
tecnológicos. Em São Paulo, por exemplo, pesquisadores da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp) descobriram no ano passado uma das
causas da leucemia. Neste ano, pesquisadores do Instituto Butantã e da
Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram uma vacina para
hepatite B que pode ser consumida por via oral. Os testes em humanos
devem começar no próximo ano.
A primeira pesquisa foi resultado de uma tese de doutorado e a
segunda envolveu doutores já titulados. Nas empresas, os doutores podem
contribuir e muito para os avanços tecnológicos e o desenvolvimento de
novos produtos. “O nosso país, de modo geral, não tem cultura de
descobertas. Faltam políticas públicas voltadas à área de ciência e
tecnologia para o desenvolvimento de novos produtos”, afirma o diretor
de pesquisas do Ipardes, Júlio Suzuki.
Segundo ele, o doutorado no Brasil ainda está preso à cultura da
produção de uma tese, que nem sempre tem aplicação prática.
“Dificilmente é elaborado algo que possa contribuir para toda a
sociedade. Não há essa preocupação”, comenta.
Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=1237839&tit=Parana-importa-70-dos-doutores
Acesse
crônicas do Prof. Cláudio Silva, sobre
educação, em: http://profclaudiosilva.blogspot.com/2011/10/cronicas-sobre-educacao-do-prof-claudio.html
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